Você tem padrões verdadeiros?
Você tem a coragem de desafiar a si mesmo?
David Goldberg encontra alguém na rua que se parece com seu amigo
Jack.
Jack,” diz ele, “você engordou um pouco e seu cabelo
ficou grisalho. Parece um pouco mais baixo do que eu me lembrava, e
suas bochechas estão mais cheias. Além disso, está
andando de maneira diferente e até parece diferente. Jack, o
que aconteceu com você?”
“Não sou o Jack,” diz o outro homem a ele.
“Uau! Você até trocou de nome!” diz David.
Dois sinais
Os animais da terra que são permitidos, ou casher, para
consumo dos judeus são identificados na porção
da Torá Reê com duas características distintas.
Primeiro, o animal deve ruminar. Isso significa que após engolir
o alimento, o animal deve regurgitar do primeiro estômago para
a boca para ser mastigado novamente. Esse alimento regurgitado é
chamado bolo alimentar.
Em segundo lugar, o animal deve ter cascos completamente fendidos (1)
Por exemplo, vaca, cabra, ovelha e gazela possuem essas duas características
e são considerados casher. O burro e o cavalo, por outro lado,
que não possuem nenhum desses dois aspectos, são dfinidos
como animais não casher. O porco, que tem cascos fendidos mas
não rumina, e o camelo, que rumina mas não tem cascos
fendidos, são animais não casher (2).
Por que essas características específicas fazem um animal
ser casher?
O Poder do Alimento
A Cabala ensina que os atributos físicos de um animal refletem
as qualidades espirituais e psicológicas distintas de sua alma
(3).
Outro ponto explicado pelos sábios judeus é que o alimento
consumido pela pessoa tem um profundo efeito sobre a sua psique. Portanto,
quando uma pessoa come a carne de um animal específico, a “personalidade”
desse animal afeta a identidade do consumidor humano (4).
Os cascos fendidos e a ruminação representam duas qualidades
da alma desses animais que são crucialmente necessárias
para o desenvolvimento saudável do caráter humano. Quando
o judeu consome a substância desses animais, torna-se um ser humano
mais “casher” e refinado (5).
Auto-disciplina moral
Cascos fendidos – a divisão existente na cobertura
do pé de um animal – simbolizam a noção de
que o movimento da pessoa na vida (refletido pelas pernas que se movem)
é governado por uma divisão entre “direita”
e “esquerda”, entre certo e errado, entre o permitido e
o proibido. Um casco fendido representa a capacidade humana de aceitar
que existem coisas a serem abraçadas e coisas a serem evitadas.
Este processo de auto-disciplina moral é característico
de se levar uma vida saudável psicológica e espiritualmente.
Um violino pode produzir sua música maravilhosa apenas quando
suas cordas estão amarradas, não quando estão soltas
e “livres”. Da mesma forma, um ser humano que se permite
fazer tudo aquilo que deseja, sempre que quiser, rouba de si mesmo a
chance de experimentar a música interior de sua alma.
Desafie a si mesmo
A segunda qualidade que caracteriza um ser humano “casher”
é que ele sempre rumina o que ingere. Mesmo depois que a pessoa
“engole” e integra em sua vida algumas perspectivas, atitudes
e sentimentos, jamais deve se tornar totalmente seguro e presunçoso
sobre elas. O ser humano espiritual precisa regurgitar continuamente
suas noções e ideias para mastigá-las e refletir
sobre elas novamente.
O homem jamais deve permitir-se ficar totalmente satisfeito com sua
órbita (como demonstra a anedota acima sobre David Goldberg).
O contentamento alimenta a presuncão; a presunção
traz tédio ou arrogância. Uma pessoa deveria sempre –
até seu último suspiro – desafiar a si mesma, examinar
seu comportamento e refinar seu caráter.
(Este ensaio é baseado num discurso feito pelo Rebe em 1956 (6).
1 – Vaiycrá 11:1-7.
2 – Vaiycrá ibid. Devarim 14:4-8.
3 – Veja Licutê Sichot vol. 15 Vayechi
4 – Veja Nachmânides Vaiycrá 11:13; Tanya cap. 8.
cf. Shulchan Aruch Yoreh Daah Seção 81.
5 – Licutê Sichot vol. 1 págs. 223-224.
6 – Licutê Sichot ibid. págs. 222-226, cf. Licutê
Sichot vol. 2 pág. 378.
Meus agradecimentos a Shmuel Levin, escritor e editor em Pittsburgh,
por sua ajuda editorial.