Nomear juízes
Esta Parashá trata dos fundamentos da liderança judaica:
o estabelecimento de cortes legislativas judaicas e, mais adiante, algumas
leis relacionadas a juízes; a nomeação de um rei
judeu e várias leis relacionadas às guerras, as quais o
rei deve conduzir e conclui com a mitsvá de eglá arufá
(a bezerra cuja nuca é quebrada), que envolve tanto juízes
como cohanim.
Há mitsvot especiais para os líderes da nação.
Os líderes devem lembrar a toda hora que eles são um exemplo
para toda a nação.
Os líderes da nação judaica são:
1. Juízes,
2. cohanim,
3. profetas,
4. o rei.
Todos os acima escritos carregam uma enorme responsabilidade, pois sua
conduta e comportamento exercem forte influência sobre o resto do
povo, positiva ou negativa. Moshê descreveu a Benê Yisrael
todas as leis que os líderes devem saber.
Moshê explicou: "Em Yerushaláyim vocês terão
o Grande San’hedrin". Esta é a mais alta corte legislativa
do país. Quando vocês viajarem para Yerushaláyim para
Yom Tov, vocês poderão ir para o San’hedrin com os
seus casos de justiça.
"Além do tribunal, D’us quer que cada cidade em Êrets
Yisrael tenha o seu próprio Bet Din (Tribunal). Em uma cidade pequena,
um tribunal de três juízes já é o bastante.
Apesar de que três juízes não podem julgar casos de
vida e morte, eles podem solucionar problemas ligados a dinheiro e propriedade.
Uma cidade maior (onde moram pelo menos 120 judeus) deve ter um Bet Din
de 23 membros. Este Bet Din tem o poder de decretar uma sentença
de morte.
"Se os juízes de um Bet Din estão indecisos a respeito
de um caso, devem viajar até o Grande Tribunal."
O Grande Tribunal tem setenta juízes e um nassi (presidente) sobre
eles. O San’hedrin se reúne diariamente em uma das salas
do Bet Hamicdash. Os juízes sentam em um semicírculo. Deste
modo, eles poderiam ver uns aos outros e o presidente poderia vê-los
todos. Quanto maior fosse o juiz, mais próximo do presidente ele
se sentava. Hoje em dia, já que a corrente da semichá está
rompida, nós não temos mais a mitsvá de nomear um
San’hedrin.
O que é semichá?
Semichá quer dizer "ordenação". Quando
Moshê nomeou Yehoshua e os setenta zekenim (sábios experientes)
do San’hedrin, colocou suas mãos sobre a cabeça deles.
Mais tarde, aqueles sábios nomearam os líderes da próxima
geração. Mesmo não tendo colocado suas mãos
sobre as cabeças dos seus sucessores, o ato de ordená-los
ainda era chamado de "dar a semichá". A corrente de semichá
continuou a passar dos líderes de uma geração para
a próxima.
Quando os romanos destruíram o segundo Bet Hamicdash, queriam abalar
a coragem dos judeus. Porém sabiam que enquanto o San’hedrin
estivesse de pé, o povo continuaria espiritualmente forte. Por
isso eles tentaram destruir o San’hedrin que continuou exercendo
sua funçnao em segredo. Dar ou receber semichá era punido
com morte. Apesar do decreto romano, a semichá continuou por mais
150 anos depois da destruição do Bet Hamicdash. No final
ela foi rompida.
Em toda Amidá diária nós rezamos:"Hashiva shoftenu
kevarishona; Por favor, traga de volta nossos juízes assim como
era antes!" Pedimos para D’us trazer Mashiach e restabelecer
o San’hedrin que novamente concederá a semichá. Adicionalmente
aos juízes, a Torá manda ter também os shoterim,
policiais. Os shoterim executam os decretos dos juízes. Moshê
avisou: "Nomeiem somente juízes capazes e honestos. Lembrem-se
de que para ser um verdadeiro juiz de acordo com a Torá, o indivíduo
deve antes de tudo cumprir ele mesmo as mitsvot."
Uma história:
Faça o que você diz!
Rabi Yonatan tinha uma árvore cujos galhos alcançavam o
quintal do seu vizinho não-judeu. Certo dia, dois judeus vieram
para o Rabi Yonatan. Um deles reclamou que a árvore do seu amigo
se estendia até sua propriedade. Eles pediram para o Rabi Yonatan
resolver sua discussão. Quando Rabi Yonatan ouviu o caso, percebeu
que ele mesmo estava cometendo o mesmo erro. "Por favor, voltem amanhã!"
disse a eles.
O vizinho não-judeu de Rabi Yonatan ouviu falar sobre o caso jurídico.
Ele disse: "Como Rabi Yonatan pode dizer para mais alguém
o que fazer, quando ele mesmo não está fazendo a coisa certa?"
Naquela mesma noite, Rabi Yonatan chamou um trabalhador. "Corte os
galhos que estão se estendendo além da minha casa",
ele instruiu.
Cedo na manhã seguinte, os dois homens retornaram para ouvir a
decisão de Rabi Yonatan. "Você deve cortar os galhos
que estão avançando", disse ele para o dono da árvore.
O vizinho não-judeu de Rabi Yonatan tinha vindo para ouvir como
Rabi Yonatan decidiria o caso. Ao ouvir o veredicto, ele não pôde
se controlar e explodiu com raiva: "E o que me diz de si próprio?"
balbuciou. "Por que você não faz o que diz? Como pode
ordenar alguém para cortar os galhos, quando os seus galhos também
estão avançando para o meu pátio?!"
"Eles não estão!" respondeu o rabino. "Vá
verificar isto você mesmo."
Indo até lá, o não-judeu constatou que Rabi Yonatan
tinha realmente cortado os galhos.
"Abençoado seja o D-us dos judeus!" ele exclamou. "Seus
juízes fazem o mesmo que dizem para os outros fazerem!"
Moshê
adiciona leis relacionadas à idolatria
Moshê descreveu mitsvot adicionais a respeito de idolatria. O dever
mais importante de um juiz era o de punir idólatras.
"Vocês não podem plantar uma árvore no Bet Hamicdash
ou em seu pátio. Árvores na área do Bet Hamicdash
deveria ser algo maravilhoso. No entanto, o plantio delas é proibido.
Os canaanitas plantavam asherot, árvores ‘sagradas’,
perto dos seus templos. Por isso, D’us proíbe o plantio de
árvores, mesmo se você tiver boas intenções.
Isto poderá ser o primeiro passo em direção à
idolatria.
"Vocês também não devem erguer uma matsevá
para D’us." A matsevá é uma grande pedra geralmente
erguida para comemorar algum evento, sobre a qual eram despejados vinho
ou óleo. Os canaanitas usavam as matsevot para honrar seus ídolos.
A Torá nos conta que nosso patriarca Yaacov ergueu uma matsevá
em honra de D’us. No seu caminho até Lavan, Yaacov pretendia
passar a noite no monte de Moriyá, onde D’us o recebeu com
um sonho profético. Ao acordar, ele percebeu que as doze pedras
originalmente postas em volta de sua cabeça transformaram-se milagrosamente
em uma só. Yaacov decidiu consagrar aquela pedra como uma matsevá
(monumento) para D’us. Ungiu-a com óleo, que foi provido
a ele pelos Céus. Se ajoelhou, rezou em frente à matsevá,
e disse: "Se você, D’us, permitir que eu volte para casa
em paz, eu oferecerei sacrifícios neste local." (Mais tarde,
sobre esta pedra, foi colocado o aron, a arca, no Bet Hamicdash.)
Apesar de D’us ter ficado satisfeito com os monumentos dos patriarcas,
na outorga da Torá D’us proibiu esta prática, pois
o erguimento de monumentos havia se transformado em um rito canaanita.
Obediência
ao Grande San’hedrin
Moshê explicou: "O Grande San’hedrin em Yerushaláyim
tem a palavra final em todas as questões. O que a maioria dos juízes
decide, vira lei. Mesmo se você achar que estão errados
na sua decisão, você deve aceitar isto.
"Por exemplo, você leva perante os juízes um pedaço
de carne que acha que não é casher. Mas eles decidem: ‘A
carne é casher!’ Não diga: ‘Como poderei comer
esta carne? Estou convencido de que ela não é casher!’"
A Torá adverte veementemente que as decisões do San’hedrin
devem ser obedecidas; pois D’us concedeu aos sábios o poder
de interpretar as leis da Torá na vida cotidiana. Se houvesse um
colapso no respeito à interpretação dos sábios,
a derrocada da nação não tardaria. Tal colapso levaria
à anarquia, e a Torá se fragmentaria em diversas Torot.
Você pode perguntar: "Será que é impossível
os juízes terem cometido um engano?!
Afinal, eles só são seres humanos." Mesmo que você
possa estar certo, a Torá ordena que obedeçamos sempre
o San’hedrin. Mesmo que pareça que lhe dizem que a direita
é esquerda e a esquerda é direita. E certamente você
deve obedecê-los quando é evidente que sua decisão
está correta.
Até D’us concorda em aceitar suas decisões haláchicas
(referentes às leis). Leia mais sobre isto na próxima história.
Uma história:
Rabi Eliêzer discute com o San’hedrin
Rabi Eliêzer ben Horkenos era um talmid chacham (sábio) excepcional.
Seus professores o chamavam de "uma cisterna que não perde
nem uma gota". Recordava tudo o que aprendia.
Certa vez, uma discussão irrompeu entre os sábios sobre
um forno. "Este forno é tamê, impuro", os sábios
decidiram.
"Não, é puro" - argumentou Rabi Eliêzer.
Ele trouxe provas para sua opinião, porém os outros ainda
discordavam.
"Deixem-me mostrar para vocês que mesmo D’us concorda
comigo!" Disse Rabi Eliêzer.
"Estão vendo esta alfarrobeira no pátio? Se estou com
a razão, que D’us faça esta árvore mover-se
100 amot (48 metros) adiante!"
Rabi Eliêzer escolheu propositadamente a alfarrobeira, para dar
um indício aos sábios.
Assim como a alfarrobeira produz frutos somente uma vez a cada setenta
anos, assim as palavras de Torá dos sábios - seus frutos
- não eram nem produtivos nem verdadeiros.
Assim que Rabi Eliêzer ordenou, a árvore moveu-se por 100
amot. "Agora vêem como estou certo?" Perguntou.
"Isto não prova que você está certo!" Responderam
os sábios. "Já que você é um grande tsadic,
D’us está fazendo milagres para você!"
"Não é verdade," insistiu Rabi Eliêzer.
"D’us fez isso para provar queestou certo. Repito: o forno
está puro! Se não acreditam em mim, que o riacho do outro
lado corra para trás!"
Rabi Eliêzer indicou aos outros que a Torá deles (que é
comparada à água) estava indo para a direção
errada. O riacho realmente retrocedeu no seu curso. Isto era um verdadeiro
milagre. Porém, os sábios recusaram-se a ceder ao Rabi Eliêzer.
"Que as paredes do Bet Hamidrash (casa de estudos) caiam!" gritou
Rabi Eliêzer. Ele estava indicando a eles que o Bet Hamidrash não
merecia continuar de pé por causa da sua decisão errada.
Quando as paredes começaram a desabar para dentro, Rabi Yehoshua
disse a elas:
"Como vocês, paredes, ousam se intrometer em uma discussão
entre os sábios?
Reendireitem-se imediatamente!"
As paredes tinham um problema. Não podiam cair em respeito a Rabi
Yehoshua; e não podiam endireitar-se em respeito a Rabi Eliêzer.
Por isso mantiveram-se inclinadas.
Quando Rabi Eliêzer viu que os milagres não convenceram os
sábios, ele clamou: "Que o próprio D’us prove
que estou certo!"
Imediatamente, uma voz celestial ressoou no Bet Hamidrash: "Rabi
Eliêzer está certo!"
Rabi Yehoshua veio e retrucou: "D’us! Não foi você
quem ordenou na sua Torá que nós sempre temos que seguir
a opinião da maioria do San’hedrin? Não vamos ouvir
a voz Celestial. Você com certeza só fez isso para testar-nos!"
A halachá (lei) permaneceu de acordo com a maioria do San’hedrin.
Toda a comida assada nos fornos que Rabi Eliêzer declarou serem
"puros" foram queimadas para se ter certeza de que ninguém
seguisse a sua opinião.
Hoje em dia não temos San’hedrin.
Como a mitsvá de obedecer o San’hedrin pode ser aplicada
a nós?
Devemos ouvir os conselhos dos grandes líderes espirituais da nossa
geração. Mesmo se eles não equiparam-se em sabedoria
aos juízes de antigamente, deve-se obedecê-los, pois tudo
o que temos é "o juiz de nossa própria época."
D’us não deixa seu povo sujeito à anarquia; Ele providencia-lhe
líderes compatíveis com as necessidades de sua época
e local.
Zaken Mamrê - o sábio que desobedece o San’hedrin
Se um judeu desobedece uma regra do Grande San’hedrin ou dos líderes
espirituais de sua geração, está transgredindo um
mandamento da Torá. Caso um sábio competente, na época
do Bet Hamicdash, tenha instruído outras pessoas a agir contrariamente
às regras do Grande San’hedrin, ou ele mesmo agiu desta maneira,
poderia até ser condenado à morte.
Por que ele era punido tão rigorosamente?
Com isso, a Torá quer nos demonstrar a importância fundamental
de obedecer a Palavra de D’us formulada pelo San’hedrin.
Inevitavelmente, haverá diferenças de opinião sobre
como interpretar a Lei Escrita, e aplicá-la à novas situações.
Todavia, se todos os pontos de vista tivessem o mesmo status de idêntica
legitimidade, as disputas multiplicar-se-iam, resultando em diversas versões
da Torá, cada qual competindo com as outras. Por este motivo, a
Torá investiu o San’hedrin de plena autoridade para resolver
todas as disputas e cujas decisões seriam acatadas até mesmo
por eminentes estudiosos. Porquanto um judeu deve acreditar que D’us
guia e orienta as decisões de Seus servos devotos.
Instituir e promulgar a autoridade dos sábios é tão
importante que a Torá impôs a pena capital para qualquer
juiz – mesmo para um juiz notável – que legisle contra
as decisões majoritárias do Grande San’hedrin.
Reis de Israel
e os cohanim
Podemos pensar que basta ter um San’hedrin que cuida da nação
judia. Mas Moshê explicou que: "Além do San’hedrin,
D’us quer que vocês tenham um rei. O rei se preocupará
que o país esteja funcionando de acordo com a lei da Torá.
Ele também os liderará em caso de guerra."
Benê Yisrael deveriam cumprir três mitsvot ao se estabelecer
na Terra de Yisrael: 1) escolher e coroar um rei; 2) exterminar os descendentes
de Amalec e; 3) construir o Bet Hamicdash . Assim, não nos é
apenas permitido, mas numa determinada época do futuro, nos é
ordenado que nossa nação exija um rei.
Até mesmo as profecias sobre a era Messiânica, que descrevem
Yisrael em seu mais elevado nível espiritual, versam sobre um rei
da dinastia de David.
Portanto, a monarquia é uma situação desejável.
Não obstante, quando o povo pediu que o profeta Shemuel lhe desse
um rei, "para que possamos ser como os povos à nossa volta,"
ele reagiu com desapontamento e ira.
Benê Yisrael deveria ter pedido um rei que os liderasse, inspirasse
e fosse exemplo de alguém que serve a D’us altruística
e sinceramente. Em vez disto, disseram que queriam um rei meramente para
imitar seus vizinhos. Será que o objetivo que D’us estabeleceu
para os judeus é ser igual à qualquer outro povo, cujas
aspirações são apenas glória, riqueza e conquistas?
Por causa do desejo equivocado da nação, seu primeiro rei,
Shaul, não pôde manter seu trono permanentemente.
Respeito e temor ao rei
Há várias leis referentes ao comportamento que o povo judeu
deveria ter diante de seu re:
* Um rei recém-escolhido é levado para uma fonte de água.
Lá, ele é ungido com óleo (shêmen hamishchá).
* Quando as pessoas vêem o rei judeu, elas devem mencionar uma bênção:
"Baruch shechalac micvodô lireav"; "Abençoado
és tu, D’us, Que compartilha Sua honra com aqueles que o
temem."
* É proibido sentar no trono real, cavalgar em seu cavalo, usar
o seu cetro ou qualquer um de seus objetos pessoais.
* Os reis descendentes de David são as únicas pessoas que
têm a permissão de sentar-se no pátio do Bet Hamicdash.
Todos os outros devem ficar de pé.
* O rei tem seu cabelo cortado todo dia para ter sempre uma boa aparência.
Pessoas são proibidas de assistir ao seu corte de cabelo, para
que não percam o respeito por ele.
* Todos, mesmo um navi (profeta), devem se curvar perante ele, exceto
o cohen gadol (sumo-sacerdote). Porém, é uma mitsvá
que o rei honre os sábios da Torá.
* Um judeu que desobedece a ordem real merece pena capital.
Foi dito sobre o rei Yehoshafat que quando um sábio entrava, ele
se levantava e clamava: "Meu mestre e rabino!"
As mitsvot especiais do rei
1. Ele não deve manter cavalos demais: na época dos reis
judeus, o Egito era famoso pela sua criação de cavalos.
Se um rei queria muitos cavalos, poderia fazer com que alguns judeus se
estabelecessem no Egito para que lhe mandassem cavalos de lá. D’us
disse "Não quero que os judeus viajem para o Egito e permaneçam
lá. O Egito é um país perverso, que influenciará
negativamente ao povo judeu."
Outra razão por que o rei judeu não pode ter um grande número
de cavalos: o cavalo era muito importante em tempo de guerra. Quanto mais
cavalos tivesse um rei, mais assegurado estaria quanto as suas vitórias.
Um rei judeu deve saber que é D’us Quem lhe fornece a vitória,
independente se tem cavalos, ou não. Portanto, o rei tem a ordem
de não manter cavalos demais em seus estábulos.
2. Ele não deve exagerar no ouro e na prata: reis não-judeus
enchiam seus tesouros com ouro e prata. Um rei judeu pode armazenar dinheiro
o bastante para as suas
necessidades, mas ele não deve perder seu tempo acumulando fortuna.
Aparentemente, não haveria necessidade da Torá dizer porquê
adverte sobre a posse de muito dinheiro, pois as tentações
do excesso de riqueza são muito bem conhecidas. Riqueza demais
leva ao orgulho e ao esquecimento da existência de um Soberano:
D’us. Porém, era uma mitsvá para o rei coletar ouro
e prata para o Bet Hamicdash.
3. Ele não pode ter muitas esposas: todos os reis antigos casavam-se
com muitas mulheres. Um rei judeu era proibido de fazer o mesmo. Muitas
mulheres iriam desviar seu coração de D’us. Aos reis
também foi dito que deveriam casar-se somente com mulheres tementes
a D’us.
O Midrash nos conta:
O erro do rei Shelomô
O rei Salomão foi o ser humano mais sábio da Terra. Ele
disse: "É verdade que a Torá proíbe o rei de
ter muitas esposas. Isso poderá desviar seu coração
de D’us. Porém esta mitsvá não se aplica a
mim. Sou tão sábio e temo tanto a D’us que, mesmo
se me casar com muitas mulheres, elas nunca me influenciarão para
o mau caminho. Se eu tiver muitas esposas, elas me darão muitos
filhos guerreiros.
A Torá também proíbe um rei de ter muitos cavalos,
para que ele não faça com que judeus assentem-se no Egito.
Esta mitsvá, também, não serve para mim. Nunca deixarei
judeus morarem no Egito. Sou inteligente o suficiente para comprar cavalos
de diferentes países."
Shelomô também pensou que coletar muito ouro e prata não
iria prejudicá-lo.
A letra yud voou para o trono de D’us e reclamou: "Mestre do
Universo! Você prometeu que nenhuma letra da Torá seria mudada.
Porém Shelomô me trocou! Eu apareço nas palavras da
Torá ‘lo yarbe’, ‘o rei não deve ter a
mais!’ O rei Shelomô desobedeceu a esta mitsvá!"
D’us confortou o yud: "Não se preocupe! Mesmo uma pequena
letra como você é muito importante! Você verá
que Shelomô errou. Aí ficará claro que as leis da
Torá se aplicam a todos, sem exceções."
E assim aconteceu. Quando o rei Shelomô já era avançado
em idade, suas esposas (que se converteram ao judaísmo antes de
se casarem com ele) serviram ídolos. Shelomô não protestou
o suficiente. D’us ficou tão aborrecido com o rei Shelomô
que Ele escreveu no Tana"ch (Bíblia): "Shelomô
serviu a ídolos." Para um grande tsadic como o rei Shelomô
foi considerado como se ele mesmo tivesse praticado idolatria. O rei Shelomô
também adquiriu cavalos demais. Como conseqüência, alguns
judeus acabaram morando no Egito. Mais ainda, os pesados impostos que
seu vasto tesouro exigia fizeram com que a nação se dividisse
após sua morte.
Shelomô compôs um livro cheio de sábios conselhos,
chamado Cohêlet. Nele, ele escreve: "Eu me apoiei na minha
grande sabedoria e ignorei as palavras da Torá, enraivecendo a
D’us. As mitsvot de D’us são mais sábias do
que tudo o que um ser humano poderia sequer imaginar."
A Torá, geralmente, não nos dá a razão das
mitsvot. Shelomô falhou pois a Torá deu a razão das
mitsvot dos reis. Ele racionalizou que elas não se aplicavam a
ele. Se a Torá tivesse nos ensinado o significado de outras mitsvot,
poderíamos transgredi-las também, achando que estas não
se aplicam a nós.
O rei deve cumprir uma outra mitsvá:
4. O sefer-Torá do rei: Andamos lap-tops e celulares para
não perdermos nenhuma notícia ou chamada telefônica,
onde quer que estejamos. Nos tempos dos reis judeus, eles levavam consigo
mais uma coisa: um mini sêfer-Torá. O carregavam a toda hora:
no seu palácio, em viagem, e mesmo nas batalhas.
O rei sempre estava extremamente atarefado. Poderíamos pensar portanto
que ele era isento do estudo diário da Torá. Mas não,
a Torá ordena: "O rei deve ter dois sifrê-Torá.
Um é guardado em seu tesouro. E o outro é carregado por
ele aonde quer que vá, a cada dia de sua vida. Ela vai ensiná-lo
a temer a D’us e guardar Suas mitsvot. Também o impedirá
de tornar-se orgulhoso, ou arrogante demais em relação aos
seus irmãos.
Em proporção à imensa honra que ele recebe, o rei
deve se destacar na virtude da humildade (sentindo-se especialmente subjugado
e grato a D’us, Que tanto o distinguiu). Para reduzir o grande perigo
da arrogância, a Torá ordena ao rei carregar consigo um sêfer
Torá para estudo freqüente e para recordar a toda hora sua
posição como o servo de D’us. Em seu coração
ele nunca deve esquecer que afinal, ele é somente um ser humano
e D’us é o verdadeiro Rei.
Para demonstrar sua grande humildade, o rei tinha que se curvar na oração
da amidá até mais do que pessoas comuns. Nós nos
inclinamos quatro vezes, porém o rei tinha que manter-se curvado
ao longo de toda a amidá.
Maimônides escreve: a Torá aqui proíbe a presunção
e a vaidade. Até mesmo o rei, apesar da sua posição
especial, é proibido de ser arrogante; quanto mais as simples e
ordinárias pessoas. D’us não tolera soberba alguma.
Somente a D’us pertence toda a grandeza, a força e a glória.
Nossos sábios nos contam:
O rei David e o rei Mashiach
Assim como grandes sábios, o rei David nunca tinha tempo para dormir
adequadamente. Estudava Torá até o meio da noite, cochilando
somente quando estava exausto. À meia noite, o vento norte tocava
as cordas de sua harpa que ficava sobre o seu leito. Este era um sinal
para David acordar. Então, cantava músicas de louvor para
D’us até o amanhecer.
Durante o dia, ele se encontrava com reis estrangeiros. Não discutia
política com eles. Em vez disso ele falava sobre Torá, seu
assunto favorito. Os judeus seguiam o exemplo de seus reis. O rei era
a inspiração para o espírito nacional. Por isso,
na época de David, todos estudavam Torá.
Alkém disto, o rei David era muito humilde. Nunca levantava a cabeça
ao andar entre seus súditos. Dizia a D’us: "Posso ser
o rei, porém você é o Rei dos reis."
D’us denominou David como Seu servo. Ele prometeu que o reinado
continuaria na família de David para sempre. Apesar de que o reinado
de David está suspenso enquanto estamos no exílio, D’us
prometeu que Ele irá restaurá-lo no futuro. O rei Mashiach
também será um descendente do rei David.
Maimônides traz a seguinte halachá (lei) que descreve Mashiach:
"Se surgir um rei da casa de David que se ocupará com a Torá
e as mitsvot – tanto a Torá Oral como a Torá Escrita
– assim como seu antecedente David, e que fará todos os judeus
retornarem para a observância, podemos presumir que ele é
o Mashiach."
"Se tiver sucesso reconstruindo o Bet Hamicdash e reunindo os exilados,
certamente é o Mashiach. Mashiach fará com que o mundo todo
retorne ao caminho da verdade, e com que todas as nações
sirvam a D’us com harmonia."
Os Cohanim e seus turnos (mishmarot)
Moshê ordenou que os cohanim fossem divididos em oito vigílias,
ou "grupos" (mishmarot), que trabalhariam em turnos para realizar
o serviço no Tabernáculo. Mais tarde, o rei David e o profeta
Shemuel aumentaram o número de turnos para vinte e quatro. Desta
forma, cada cohen ficaria "de plantão" por um pouco mais
que duas semanas ao ano. Apesar do serviço regular ser uma prerrogativa
do turno designado, qualquer cohen podia realizar o serviço de
suas oferendas pessoais a qualquer época do ano; e de ir ao Templo
durante Pêssach, Shavuot e Sucot tomar parte no serviço e
receber em troca parte das oferendas da comunidade.
Em Êrets Yisrael os cohanim viverão espalhados por todo o
país, e virão a Yerushaláyim apenas quando for seu
respectivo turno de realizar os serviços. Durante o resto do ano,
os cohanim cumprirão suas obrigações guiando o povo
no caminho da Torá, ensinando-os e sendo um exemplo pessoal.
A proibição
de consultar magos e videntes
A Torá já falou sobre os líderes da nação:
os juízes, o rei e os cohanim. Agora, a Torá versa sobre
a maneira pela qual D’us comunica Sua vontade e o que o povo deve
saber sobre o futuro a fim de cumprir suas obrigações para
D’us.
Mas antes, por ser da natureza humana querer saber o futuro e utilizar-se
de quaisquer meios para obter os fins com êxito, a Torá proíbe
os judeus de copiarem as práticas utilizadas por outras nações
para prever acontecimentos futuros. Essas práticas são abomináveis
aos olhos Divinos. Benê Yisrael que depositar sua fé que
D’us lhe dará toda a sabedoria de que precisa, e agir de
acordo, com confiança e lealdade.
Apesar dos métodos à disposição dos idólatras
para investigar o futuro, devemos seguir D’us com fé completa
e perfeita, sem sentir necessidade de saber o que irá acontecer:
"Tamim tihyê im D’us Elokecha"; "sejas íntegro
com D’us, teu D’us". Se tivermos confiança plena
e total em D’us, todas as previsões dos magos e videntes
não terão significado algum, pois D’us reverterá
qualquer mal contra Israel. A prova disso vem dos nossos antepassados,
Avraham e Sara, que pelas leis da natureza estavam fadados a não
terem filhos, mas D’us inverteu o destino mostrado pelas estrelas.
Assim sendo, o judeu não precisa de feitiçaria, apenas de
sincera obediência ao Todo Poderoso.
Quando um rei não-judeu queria empreender uma guerra, ele antes
perguntava ao seu adivinho se ele seria ou não vitorioso. Um rei
judeu é proibido de fazer isso. É seu dever e do San’hedrin
assegurar que não existam bruxos em Êrets Yisrael.
Todas as antigas nações tinham mágicos, incluindo
a terra de Canaan. Alguns eram baalê ov: convocavam os espíritos
de pessoas mortas e formulavam perguntas sobre o futuro. Havia outro tipo
de mago chamado yideoni: ele colocava o osso de um animal na boca, e o
osso começava a falar.
Os não-judeus também tinham alguns sinais de "sorte"
e de "azar". Por exemplo, se alguém comesse pão
e um pedaço caísse de sua boca, era considerado um azarado.
Moshê avisou: "Vocês não podem acreditar em todas
estas superstições, assim como consultar mágicos
e astrólogos é proibido."
Conhecendo o futuro
"Só lhes é permitido conhecer o futuro de duas formas:
1. Podem consultar um profeta de D’us.
2. O rei ou o presidente do San’hedrin podem perguntar aos urim
vetumim."
Como os urim vetumim respondiam? Como sabemos, o cohen gadol (sumo-sacerdote)
usava o Chôshen (peitoral). Sobre ele havia doze pedras preciosas
com os nomes das doze tribos gravados nelas. Os urim vetumim, o nome sagrado
de D’us, ficava oculto dentro do Chôshen. Isso fazia com que
as letras do Chôshen se iluminassem fornecendo e formando as respostas.
O Chôshen
e as profecias dos sábios
Cada pedra preciosa do Chôshen continha seis letras: o nome da tribo
e letras adicionais. As letras extras formavam as palavras "Avraham
Yitschac Yaacov, Shivtê Yeshurun, tribos de Israel". Deste
modo, todas as letras do alfabeto hebraico se encontravam no Chôshen.
Se o rei, por exemplo, queria saber se deveria ir para a guerra ou não,
procurava o cohen gadol. Dizia a ele: "Por favor, consulte os urim
vetumim se devo ir à guerra." O cohen gadol olhava para o
Chôshen e via algumas letras brilhando. Quando ele juntava estas
letras, tinha a resposta.
Digamos, que a letra g Ayin de Shim’on, k
Lamed de Levi, v Hê de Avraham e , Tav de Naftali
se acendiam. Juntas, elas formavam, v k g. A resposta
estava naquela palavra, porém o cohen gadol devia rearranjar as
letras com seu rúach hacodesh, dom profético. No nosso exemplo,
a resposta seria: Taalê vkg, - Vá para a
guerra!
As predições do urim vetumim sempre se
realizavam; não havia exceções.
No segundo Bet Hamicdash, o cohen gadol ainda usava o Chôshen, porém
este não mais possuía os urim vetumim dentro dele. Sem o
nome sagrado de D’us, o Chôshen não podia ser consultado.
Como reconhecer um verdadeiro profeta
D’us garantiu ao judeus que eles não precisam temer os esforços
dos feiticeiros, pois o destino de Benê Yisrael está muito
acima da capacidade de qualquer um de prejudicá-los. E mais ainda:
a fim de que os judeus não temam que as proibições
anteriores de estudar o futuro os torne inferior aos seus vizinhos, D’us
lhes garantiu que Ele lhes enviará profetas.
Moshê explicou como reconhecer um profeta de D’us. Primeiramente,
o profeta deve ser um sábio e um tsadic. Ele deve guardar todas
as mitsvot de D’us. Se ele não o faz, ele não é
um verdadeiro profeta, apesar dos sinais que ele dá. Não
devemos ter nada com ele.
Moshê disse: "O profeta que declarar que D’us tenha falado
com ele, deve ser testado. Perguntem a ele algo sobre o futuro. Se a predição
realizar-se, a Torá ordena que vocês acreditem nele dali
em diante. Se o seu sinal não se confirmar, ele é um falso
profeta. Vocês devem condená-lo à morte."
Testemunhas
e o Bet Din
A Torá ordena: "O Bet Din pode punir uma pessoa somente mediante
duas testemunhas oculares que o viram cometendo o pecado."
O que acontece se ele só for visto por uma testemunha?
D’us é quem punirá o pecador; o Bet Din não
tem poder neste caso. Na verdade, se uma só pessoa vir alguém
cometendo um pecado, é errado ir reportar o caso ao Bet Din. Porém,
se duas testemunhas viram um pecado sendo cometido, é uma mitsvá
ir reportar ao Bet Din. Elas não podem ignorar isto.
Edim zomemim / testemunhas falsas
Um tribunal judaico não pode basear seu veredicto em evidências
circuntanciais, boatos, testemunho escrito, ou o testemunho de uma só
pessoa. Só é aceito o testemunho oral de duas testemunhas
oculares e válidas que aparecem na corte.
Elas são submetidas a um minucioso interrogatório feito
pelos juízes.
No caso de as testemunhas terem apresentado um falso testemunho tão
convincente que até o interrogatório dos juízes não
pode provar nada contra, a Torá não responsabilizará
os juízes por fatores ocultos que eles possivelmente não
tenham trazido à luz. Se alguém fosse executado como resultado
disso, D’us teria causado sua morte desta maneira, porque ele provavelmente
já era culpado por outro pecado.
Se dois pares de testemunhas se autocontradizem em relação
a determinado assunto, o testemunho de ambos é anulado. Porém,
se o segundo par prova que o primeiro par não estava presente na
hora que eles afirmam ser a hora do crime, o testemunho deste último
par é que é aceito.
Por exemplo:
Testemunhas A e B: "Nós observamos fulano assassinar seu vizinho
no nosso pátio de trás (especificando a localização)
em tal lugar, no Shabat à noite, às onze horas."
Testemunhas C e D contradizem: "Era impossível vocês
terem visto isso em tal lugar às 11 horas da noite, pois nós
dois vimos vocês deixarem a casa de sicrano no outro lado da cidade
exatamente a esta hora!"
A Torá decretou que o último par de testemunhas - contanto
que eles tenham passado o exame dos juízes satisfatoriamente -
devem ser acreditados. O primeiro par é declarado como "edim
zomemim - testemunhas conspiradoras".
Qual é a punição dos conspiradores?
Eles recebiam aquilo que planejaram para a sua vítima. Se acusaram-na
de assassinato e ela receberia a pena de morte, eles são condenados
à morte em seu lugar.
A Torá termina, porém, que se a fraude é descoberta
somente após a execução da vítima, a falsa
testemunha não é punida. Presumimos que se D’us deixou
isto acontecer, havia uma razão; a vítima possivelmente
era culpada de alguma crime ou pecado anterior.
Como o exército
se prepara para a guerra
Numa guerra ordenada por D’us, há uma mitsvá que se
aplica a cada soldado individualmente: Não temer a força
do inimigo ou sua superioridade numérica. "Vocês são
superiores aos inimigos em boas ações e também são
descendentes dos patriarcas, aos quais prometi a multiplicar sua semente",
diz D’us.
"Assim como os tirei do Egito com milagres, posso realizar milagres
sempre que necessário."
Após a travessia do Mar Vermelho, Benê Yisrael cantou: "Sus
verochvo rama bayam"; "O cavalo e cavaleiro, Ele lançou
no mar." O Faraó perseguiu os judeus com um grande exército,
mas aos olhos de D’us eles eram somente como um cavalo. Mesmo se
o inimigo é maior e mais forte, um judeu deve confiar em D’us
que declara: "Diante de mim, o mais poderoso inimigo não é
nada."
D’us não quer que contemos apenas com milagres, daí
a necessidade de organizar um exército.
Porém, o soldado judeu não deve tampouco confiar no poderio
bélico. Recitamos diariamente nas orações matutinas
(no trecho de Haleluca): "Ló bigvurat hassus yechpats";
"D’us não quer aquele que confia na força do
cavalo, nem na velocidade das pernas humanas." D’us deseja
aquele que O teme, que anseia pela Sua bondade" (Tehilim 147;10).
Quem é desqualificado para lutar nas guerras
Antes de cada batalha, um cohen especial era nomeado. Em sua fronte era
despejado o óleo especial usado para os cohanim guedolim (sumos-sacerdotes)
e reis, e ele era denominado o cohen mashuach milchamá (o cohen
nomeado para a guerra). Seu trabalho era o de encorajar os soldados judeus
e lembrá-los de que D’us estava com eles e lhes ensinar as
mitsvot referentes às guerras.
Ele começava seu discurso com as palavras "Shemá Yisrael",
como um sinal de que: "Vocês merecem a ajuda Divina mesmo se
o seu único mérito é o de falar ‘Shemá
Yisrael’ toda manhã e noite!" Ele continuava: "Não
temam. D’us está com vocês."
Depois de encorajar os soldados, o cohen mashuach milchama anunciava que
determinados grupos de pessoas eram proibidas de lutar.
Estas eram as palavras do cohen:
1. Há alguém entre vocês que tenha construído
uma nova casa e ainda não se mudou para lá? Neste caso,
não deve ir à batalha. Deixem o exército e inaugurem
a nova casa!
2. Há alguém aqui que tenha plantado um vinhedo e ainda
não comeu dos seus frutos? Retorne para casa.
3. Alguém está comprometido com uma mulher e ainda não
a desposou? Vá para casa e case-se!
Além do cohen mashuach milchama, havia também os oficiais
em cargo. Os oficiais repetiam as palavras do cohen e acrescentavam:
4. Se alguém de vocês fica aterrorizado ao ver lanças
serem jogadas, deve voltar para casa!
Nossos sábios explicam que isso também significa: Se alguém
está com medo dos pecados por ele cometidos, que vá para
casa!
Se alguém pecou, D’us não o ajudaria na guerra. Seria
melhor ele não lutar.
Qual era a razão de mandar para casa todo aquele que pertencia
aos primeiros três grupos citados acima?
Imagine um soldado que é chamado para a guerra exatamente antes
do seu casamento. Seu coração está repleto de preocupação.Ele
pode nunca voltar. Outra pessoa pode desposar sua noiva! Ele provavelmente
não conseguirá se concentrar em lutar bravamente. Não
só não terá coragem, mas também servirá
de mau exemplo para outros soldados. Por isso, o exército estará
melhor sem ele. O mesmo se dá com alguém que não
teve chance de morar em sua nova casa ou usufruir das frutas do seu vinhedo.
Há também uma outra explicação: a Torá
somente pretendia mandar para casa aquele que tivesse medo de batalha
ou aquele que tivesse pecado. Porém seria muito embaraçoso
para esta pessoa ir embora! Todos saberiam que ele era ou um covarde ou
um pecador! Por isso, para protegê-los da vergonha, a Torá
ordena também os outros três grupos de pessoas que deveriam
retornar. Desta forma, quando todos estes grupos deixavam o exército
para ir para casa, os outros não saberiam exatamente quem era desprovido
de coragem ou pecador.
Estas leis nos mostram o quão cuidadosos devemos ser para não
embaraçar um outro judeu, principalmente em público.
Preservar
as árvores frutíferas
Quando os exércitos iam para a guerra, os conquistadores costumavam
derrubar todas as árvores da área. Eles destruíam
tudo e devastavam a terra.
A Torá ordena: "Se o seu exército estiver cercando
uma cidade inimiga em tempo de guerra, vocês não podem derrubar
nenhuma árvore frutífera antes ou depois de conquistar a
cidade. Vocês não têm o direito de destruir árvores
frutíferas desnecessariamente."
Numa guerra, é permitido atacar os soldados do inimigo, porém
uma árvore não é um soldado! Por quê os judeus
deveriam sentir a necessidade de destruir qualquer árvore frutífera?
"Ki haadam ets hassadê"; "Será que a árvore
do campo é como o homem?"
Em meio ao capítulo que versa campanhas de guerra, que por definição
é destrutiva, a Torá exige que os judeus tenham consciência
da necessidade de manter o respeito pelo bem-estar geral. Se as pessoas
tentarem permanecer boas mesmo em épocas que despertam seus mais
básicos instintos, serão capazes de aperfeiçoar seu
caráter firme e constantemente.
A analogia entre o homem e as árvores possui um significado muito
mais amplo. Como as árvores precisam do crescimento de galhos,
ramos, flores e frutos para que cumpram seu propósito; assim também
o homem foi colocado aqui na terra para se desenvolver, e produzir verdade
moral, intelectual e espiritual.
Bal Tashchit / É proibido desperdiçar
Nossos sábios também proibiram-nos de destruir ou desperdiçar
qualquer coisa útil. No passado, as pessoas eram muito mais cuidadosas
no que se refere a desperdício. Não tinham tanta comida,
dinheiro ou roupas. Por isso, eles se esforçavam para fazer bom
uso de tudo. Em comparação com as gerações
anteriores, hoje, todos nós somos ricos. D’us nos abençoou
com abundância. Muitos de nós temos dinheiro suficiente para
comprar todo alimento e vestimenta que precisamos. Porém isso não
quer dizer que podemos desperdiçar qualquer dessas coisas.
Todo alimento deve ser tratado com respeito. O Talmud nos conta: "Um
alimento que serve para seres humanos, não deve ser dado para um
animal". Por quê? Isto é desrespeitoso para com o alimento
e demonstra uma falta de gratidão para com a bênção
de D’us. É certamente errado, portanto, jogar comida fora.
Em vez disso, devemos planejar nossas refeições para que
o alimento não seja mal aproveitado.
Fora o respeito por comida em geral, é proibido atirar pão,
mesmo se este não for danificado. Alguém que vê comida
no chão deve levantá-la. Uma pessoa nunca deve andar sobre
migalhas de pão, já que isto pode levar à pobreza.
As migalhas devem ser varridas.
O cuidado com as roupas também é parte da mitsvá
de bal tashchit.
Dinheiro também não deve ser desperdiçado. Um judeu
não deve gastar seu dinheiro sem propósito, mas sempre no
intuíto de cumprir uma mitsvá.
Eglá
Arufá / a bezerra cuja nuca era quebrada
Quando um judeu, D’us não o permita, é assassinado,
seu sangue clama a D’us pedindo vingança. Somente quando
o assassino é punido, o sangue da vítima é apaziguado.
Às vezes não sabemos quem é o assassino.
Como podemos vingar o sangue do morto neste caso?
Nós o fazemos através da eglá arufá. O grande
San’hedrin em Yerushaláyim fica sabendo do assassinato. Cinco
dos seus juízes são mandados ao lugar da ocorrência.
Eles medem em todas as direções a partir do cadáver
e decidem qual é a cidade mais próxima. Eles se preocupem
para que a vítima seja enterrada e vão embora.
Agora, o Bet Din da cidade mais próxima assume este caso. Seus
juízes compram uma bezerra que nunca foi usada para arar a terra,
e em cujo lombo nunca foi colocado um peso. Eles a levam para um vale
de terra dura que nunca foi arado. Eles quebram a nuca da bezerra com
um machado.
Todos os líderes de Torá que vivem na cidade mais próxima
devem lavar suas mãos no vale e declarar: "Yadênu ló
shafchu et hadam hazê"; "Nossas mãos não
derramaram esse sangue."
"Não é culpa nossa que o assassinato tenha ocorrido!
Sempre que um estranho visita nossa cidade, lhe oferecemos comida e bebida
e o acompanhamos quando ele se vai. Não o deixamos sair com fome."
Um grupo de cohanim também deve vir ao vale. Os cohanim rezam:
"Por favor, D’us, perdoe a todo o povo de Yisrael pelo assassinato!"
Mesmo se Benê Yisrael não são diretamente responsáveis,
a culpa é atribuída a todos. A Torá não nos
explica o porquê da eglá arufá. Esta lei é
um choc (mitsvá cuja razão não nos foi revelada).
Porém há algumas explicações que nos ajudam
a entender melhor este assunto;
Uma bezerra que nunca tenha trabalhado ou parido é utilizada. O
vale onde a bezerra é morta é um local ermo e estéril
onde nada cresce. Tudo isso mostra quão terrível é
um assassinato: o assassino tirou a vida da vítima – e com
isso, impediu que esta se perpetuasse e continuasse a cumprir as mitsvot.
O povo, juízes e líderes espirituais imploravam a D’us
para que os perdoasse pelo assassinato. Suas orações e o
ato de cumprir a mitsvá de eglá arufá expiavam o
pecado. O vale deveria permanecer deserto para sempre; ele nunca poderia
ser arado. Sempre que os judeus passassem por ele, se lembrariam quão
grave é o pecado do assassinato.
A mitsvá de eglá arufá também era uma forma
de encontrar o assassino. Muitas pessoas costumavam se aglomerar para
assistir a esta cerimônia. Eles comentariam sobre o assassinato.
Quem conhecia a vítima? Será que ela tinha algum inimigo?
Às vezes, algum dos presentes poderia saber de algo que levava
ao descobrimento do assassino. Se o assassino era encontrado e havia testemunhas
que o viram cometer o crime, era condenado à morte. É interessante
notar que esta mitsvá vem logo a seguir ao trecho que contém
as leis pertinentes à guerra. Infelizmente, a realidade necessita
de conflitos armados contra inimigos, e seus inevitáveis resultados
em termos de perdas de vidas. Contudo, o fato de existirem guerras não
pode nos deixar insensíveis à perda de vidas. Todos são
responsáveis pela destruição de uma única
vida humana.
D’us prometeu: "Se vocês se preocuparem com o sangue
inocente derramado, Eu me preocuparei para que chegue o tempo quando todas
as morte cessarão. Na época de Mashiach, instrumentos de
matança serão usados somente para fins pacíficos."