D'us nos dá guloseimas? Seis razões para isso
   
 
 
 

É muito conhecida a história sobre a reunião semanal na aldeia chassídica de Dokshitz. Um samovar com pannes - uma bebida quente feita com água fervente, vodca e açúcar, era preparado, e Reb Ariê, o professor chassídico de Dokshitz dava uma aula sobre Torá Or (uma coleção de discursos pronunciados pelo fundador do chassidismo de Chabad, Rabi Shneur Zalman de Liadi).

O Rebe deles, Rabi Shmuel de Lubavitch, (1834-1882) não aprovava a idéia. "Torá Or com pannes?" perguntava ele a Reb Ariê quando escutava como a alma sublime da Torá era perscrutada em Dokshitz. "Diga-me, qual a conexão entre um discurso de ensinamento chassídico e um copo de pannes?"

Da próxima vez em que Reb Ariê estava em Lubavitch e o Rebe inquiriu sobre como iam as coisas em Dokshitz, o professor foi forçado a dizer que a participação no estudo semanal em grupo havia diminuído, desde que o samovar fora eliminado do programa. "Nu," disse o Rebe, "então traga de volta o pannes. Desde que eles estudem Torá Or..."


A Torá está repleta com descrições das recompensas que D'us nos concede se seguimos Seus mandamentos, e as punições que sobre nós cairão, D'us não o permita, se não os cumprirmos. "Se caminharem em Meus estatutos e guardarem Meus mandamentos e os cumprirem; dar-lhes-ei chuva na época apropriada, a terra concederá seus produtos, e as árvores dos campos darão frutos." etc.

Certamente somos mais sofisticados que isso. Não somos capazes de, como disse Maimônides, "fazer a verdade por que é verdadeira?"

Uma centena de gerações de Sábios talmúdicos, comentaristas medievais, cabalistas e mestres chassídicos têm explicado sobre o conceito de recompensa e castigo da Torá. As explicações que fornecem são variadas, mas se você as examinar mais profundamente, verá que estas não são razões paralelas ou alternativas, mas ao contrário, pertencem uma à outra como as membranas de uma cebola, expressando camadas diferentes da mesma verdade.

Eis aqui uma amostra das afirmações que fizeram:

a) É uma fase que estamos atravessando. Quando um pai dá ao filho um doce como prêmio pelo bom comportamento, não pretende continuar esta prática durante toda a vida da criança. O filho está sendo treinado. Mais tarde na vida, quando a criança atingir a maturidade intelectual e moral para "fazer a verdade porque é verdadeira", os padrões positivos de comportamento já estarão gravados em sua natureza, tornando muito mais fácil a tarefa de agir como sabe e sente que deveria.

b) É algo como uma habilitação. Quando D'us retribui o bem com bondade material, Ele não está nos "recompensando" - está nos possibilitando praticar mais o bem. Nas palavras de Maimônides: "D'us está nos prometendo que se observarmos [Sua Torá] com alegria... Ele afastará de nós todas as coisas que nos impedem de cumpri-la, como doenças, guerra, fome e afins, e Ele concederá sobre nós as bênçãos que ajudam nossa mão a cumprir a Torá, como alimento abundante, paz e muito ouro e prata, a fim de que não precisemos nos preocupar todos os dias com nossas necessidades materiais, mas estejamos livres para aprender a sabedoria e cumprir os mandamentos pelos quais mereceremos a vida no Mundo Vindouro..."

c) É a natureza (espiritual) das coisas. Uma perna quebrada é um "castigo" de D'us por pularmos de uma janela do segundo andar? Artérias desimpedidas são a recompensa de D'us por uma dieta baixa em colesterol? De certa forma, sim, pois tudo que acontece em nossa vida acontece porque D'us assim o quis. Porém trata-se de mais que Alguém sentado em algum lugar, tabulando os atos bons e maus, e concedendo prêmios e multas. D'us estabeleceu certas "leis da natureza" que descrevem os padrões de Suas ações sobre nossa existência. Há as leis físicas da natureza, que os cientistas medem e formulam hipóteses a respeito, e existem as leis espirituais da natureza descritas pela Torá - as mitsvot - as quais ditam que atos espirituais benéficos trazem benefício espiritual, e atos espiritualmente nocivos causam dano espiritual. E como nossa existência física deriva e espelha a realidade espiritual, o comportamento moral e espiritual de uma pessoa termina por afetar também sua vida física.

d) A vida é aquilo que você faz dela. Nosso ser comportamental é nossa interface com o imenso mundo externo, o meio e o filtro através dos quais afetamos e somos afetados pelos outros. Coisas boas acontecem a pessoas boas, e coisas más acontecem a pessoas más porque aqueles que são bons vivenciam aquilo que lhes acontece como sendo bom, e pessoas más sentem o que lhes acontece como sendo mau. Observe sua própria vida e suas experiências, e as vidas e experiências de pessoas que você conhece bem, e verá que isso não é tão incrível como possa parecer.

e) A verdade está nas externalidades. A natureza da verdade é que ela é consistente e inequívoca. Se algo é realmente verdadeiro, retém sua verdade em todo contexto e sob todas as circunstâncias. Como a Torá e suas mitsvot - ou seja, uma vida de conexão com D'us - é verdadeiramente boa, sua bondade encontra expressão em todos os níveis de realidade, incluindo o reino material. Na verdade, o fato de sua bondade ser tornada real no plano mais externo da realidade, é a suprema marca de sua verdade.

f) Funciona.

     
   
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