O mundo do "Eu"
   
 
 
 

Os primeiros sintomas aparecem nos primeiros dias de vida. Aos 14 meses, a situação torna-se aguda. Está no auge por volta do 14º aniversário, e não dá sinais de diminuir antes da idade de 54 ou 64. Em alguns casos, prossegue até a idade avançada e além disso.

É chamado por muitos nomes - independência, rebeldia, não-conformismo. É algo que está embebido em toda psique humana: um desejo persistente e inquietante de "ser eu mesmo."

Poucas coisas são tão insultantes a nossa própria imagem como a noção que somos mais um no rebanho, que a sociedade dita nossos hábitos e nosso comportamento. Se nossos pais usam cabelos curtos, lutamos para deixá-lo longo; se fomos criados sob a tutela de uma geração de cabelos longos, raspamos quase careca. Praticamente em tudo que fazemos, sentimos o fardo de afirmar nossa individualidade a nós mesmos e ao mundo em geral.

Porém como quase tudo o mais neste ninho de paradoxos que é o ser humano, nosso senso de individualidade vem misturado com um desejo oposto: a vontade de pertencer a algo, a ânsia de comunhão com nossos semelhantes. Nossa identidade deseja e precisa tanto da diversidade como da homogeneidade, tanto de um "eu" como de uma família.

Os mestres chassídicos dizem que, na verdade, estes objetivos não são opostos; de fato, eles corroboram e completam um ao outro. Uma individualidade bem definida realça a contribuição de uma pessoa como membro da comunidade. E uma comunidade bem integrada realça o valor do indivíduo.

Os ensinamentos chassídicos demonstram esta verdade com o exemplo de palavras em uma sentença. Por exemplo, cada uma das seis palavras: "o" - "homem" - "é" - "uma" - "criatura" - "individualista" possui um significado. Mas a frase: "O homem é uma criatura individualista" contém muito mais informação e percepção que a soma de suas palavras. Neste caso, seis vezes um totaliza muito mais que seis.

A fim de que este salto quantitativo em significado possa ocorrer, duas forças opostas devem ser aplicadas. O excesso de união entre as palavras (como em "ohomeméumacriaturindividualista") produz algo sem sentido, assim como excesso de independência como em ("É o criatura homem um individualista"). A frase deve delinear a individualidade de suas palavras, e as palavras devem subjugar-se à lógica comunal da sentença. Quando estas duas necessidades são respeitadas, o resultado é uma comunalidade que é realçada pela individualidade de seus membros, e as individualidades realçadas por serem membros da comunidade.

Como o universo constitui-se basicamente de palavras (veja Bereshit 1), o exposto acima deveria funcionar igualmente bem na gramática do casamento, construção da comunidade, relações internacionais e harmonia cósmica, entre outras coisas.

     
   
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