|
Momentos antes
de Yom Kipur damos a tradicional bênção sacerdotal
aos nossos filhos. O Rebe costumava dar esta bênção
aos alunos da Yeshivá, parando na sinagoga pequena, a caminho da
sinagoga maior para a prece de Col Nidrê. A voz do Rebe se embargava
com emoção, como um pai abençoando seus amados filhos
naqueles momentos sagrados.
Feivel Shapiro, membro da comunidade judaica da Antuérpia, perdeu
a mãe muito cedo. Infelizmente ela faleceu após ficar doente
quando ele tinha apenas doze anos de idade, pouco antes do seu bar mitsvá.
Ela deixou órfã uma casa repleta de crianças, e ele
era o mais jovem. Cresceu sob aquelas difíceis circunstâncias.
Com o passar do tempo amadureceu, se tornou um empresário e passou
a ganhar o próprio sustento.
Cerca de vinte anos após o trágico falecimento da mãe,
os assuntos de negócios de Feivel o levaram até a cidade
de Nova York. Durante uma das noites de verão ele foi até
o 770 da Eastern Parkway, a sede de Chabad, para rezar o serviço
noturno com o minyan do Rebe.
Após Arvit ele notou uma movimentação de pessoas
entrando e saindo no hall adjacente ao estúdio do Rebe, e ficou
óbvio que algo estava acontecendo. Fez perguntas e soube que era
uma noite de yechidut, audiências particulares com o Rebe. Ele recebia
pessoas que tinham marcado visitas para ouvir o sábio conselho
deste grande líder.
Feivel, era uma pessoa que, talvez devido ao fato de ter ficado órfão
ainda criança, não tinha medo de nada e era bastante animado.
Ficou ali perto da entrada da sala do Rebe, até que decidiu entrar
e ver o Rebe embora não tivesse agendado a visita. Tranquilamente
ele se dirige à primeira pessoa da fila e diz: preciso entrar antes
de você, pois tenho de sair com urgência, e a pessoa consentiu.
A porta se abre e sai a pessoa da yechidut anterior, e Feivel então
entra na sala do Rebe. O secretário do Rebe fica chocado pela ousadia
e o segue, pretendendo dar uma bronca naquele intruso. O Rebe levanta
os olhos e manda Feivel se sentar. A porta se fecha. Silêncio. Como
não tinha tido a intenção de ir ali, ele não
tinha levado o tradicional bilhete com seus pedidos, dúvidas ou
preocupações que normalmente as pessoas entregavam ao Rebe
– na verdade ele não tinha nada a dizer. Durante alguns breves,
mas longos, momentos, o empresário ficou ali sentado, na frente
do Rebe, num silêncio total.
Então, como se num instante de inspiração, o Rebe
vai até uma gaveta e começa a procurar alguma coisa. Ele
volta à mesa com uma carta e começa a ler o que está
escrito ali. O fato é que aquela era uma carta real escrita pela
mãe de Feivel, vinte e cinco anos antes. Na carta ela diz saber
que está para morrer mas “não estou preocupada comigo
mesma, Rebe, apenas peço ao senhor que desperte Rachamim Rabim,
misericórdia extraordinária de Hashem, pelas minhas crianças.”
Ela continua com uma súplica apaixonada para que D'us proteja e
abençoe seus filhos, que logo estarão no mundo sem uma mãe.
Feivel fica em choque. Ele era apenas uma criança quando a mãe
faleceu, e suas lembranças dela eram tudo que tinha para mantê-la
perto dele, e jamais soubera da existência dessa carta escrita ao
Rebe em prol dele e dos irmãos. Vinte e cinco anos depois, o amor
e preocupação dela ainda estavam vivos ali na sala do Rebe.
Porém a maior revelação ainda estava por vir. Quando
perguntou ao Rebe se poderia ficar com a carta, o Rebe gentilmente negou.
“Antes de eu ir ao Col Nidrê”, explicou ele (quando
ele fazia a primeira parada na pequena sinagoga e dava aos alunos da Yeshivá
a tradicional bênção para os filhos), “eu leio
a carta de sua mãe.”
Talvez, quando o Rebe começasse as preces de Col Nidrê, implorando
ao nosso Pai no Céu para sermos inscritos e selados para um Ano
Novo Bom e Doce, ele tenha escolhido evocar a Divina misericórdia
de D'us aos Seus filhos com o amor altruísta desta mãe pelos
seus filhos.
Ao abençoarmos nossos filhos antes do início de Yom Kipur,
como uma mãe doente rezou por bênçãos para
os seus preciosos filhos, como o Rebe abençoa e reza por todos
nós… Avinu Malkênu, sim, Tu és nosso Rei, mas
em primeiro lugar és nosso Pai. Querido D'us, Pai, tenha misericórdia
dos Teus filhos! Doce significa Doce, e Bom significa Bom – feliz
e saudável, como apenas um pai ou mãe são capazes
de implorar para seus preciosos filhos. E nosso pai celestial tem o poder
de selar, colocando o Seu carimbo.
Leia
Mais:
Abençoar seus filhos
Conforme o costume que antecede Yom Kipur |
|