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Ressoa
o som do shofar. Um grito profundo, mas totalmente simples, uma nota livre
das nuanças da música racional. Um grito totalmente simples
que desperta a alma da criação para um compromisso renovado
com o esforço da vida.
Assim os cabalistas descrevem o drama cósmico que se repete a cada
ano, conforme o mundo "adormece" na véspera de Rosh Hashaná
e é "despertado" na manhã seguinte pelo som do
shofar.
Ao final
de Yom Kipur o toque do shofar ressoa como um anúncio de uma conexão
forte, reafirmando nossa fé em um D’us único e na
esperança de um ano melhor e na realização de todos
nossos sonhos.
Mas o
que significa dizer que o mundo está adormecido?
Como o toque do shofar restaura a consciência e vitalidade da criação?
Devemos primeiro examinar a dinâmica de "vontade" em nossa
própria vida. Pois como nos revelaram os Sábios do Talmud:
"Como a alma preenche o corpo, assim D’us preenche o mundo."
As camadas da Vontade
Nenhuma ação é realizada sem ser estimulada pelo
motor da vontade. Mas a vontade tem muitas camadas. Existe a camada mais
externa, que dirige diretamente nossas ações.
Depois há a vontade mais profunda, sob esta vontade externa que,
por sua vez, contém uma vontade mais profunda, que é uma
conseqüência de uma vontade ainda mais profunda, e assim por
diante.
O
momento é agora e a "bolsa de futuros" é
hoje!
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Assim,
o relacionamento entre a vontade e a ação não é
estático, mas sujeito a mudanças e flutuações.
Certas vezes, o nível mais interior da vontade preenche nossas
ações, vivificando-as com o desejo e a satisfação
que as motivam. Outras vezes, nossos atos podem ser inertes e letárgicos,
apoiados apenas pelo aspecto mais superficial de nossa vontade.
Para ilustrar, tomemos o exemplo de uma pessoa que é diretor de
uma grande empresa. Nosso empresário realiza muitas coisas no decorrer
do dia - acorda cedo, dirige-se ao escritório, atende clientes,
programa uma agenda repleta de compromissos, e assim por diante. No nível
mais básico, estas ações são impulsionadas
pela vontade de fazê-las: ele quer sair da cama, deseja ligar o
carro, tem vontade de atender clientes – se não quisesse
fazer estas coisas, não as faria. Mas por que ele deseja fazer
estas coisas? Por causa de uma vontade subjacente de que seus negócios
sobrevivam e prosperem. Mas por que ele quer que os negócios sobrevivam
e prosperem? Porque isso lhe traz renda e prestígio – se
isso não acontecesse, ele não desejaria ter um negócio.
Se analisarmos mais profundamente, o desejo por dinheiro e status brotam
de ânsias ainda mais profundas – o desejo por alimento, abrigo
e aceitação por parte dos amigos – os quais, por sua
vez, são extensões do desejo, intrínseco a toda criatura,
de continuar a existir.
Isso não significa que toda vez que nosso homem de negócios
pega o telefone o faz porque sente que sua própria existência
depende disso. De fato, ele nem precisa ser convencido que a ação
lhe proporcionará um lucro, ou mesmo que é crucial ao funcionamento
de seu negócio. Em última instância, porém,
o ato de erguer aquele telefone "contém" a totalidade
da vontade que o impulsiona, incluindo sua mais profunda causa das causas.
Esta "vontade interior" é a alma de sua ação.
Assim, há uma qualidade na maneira pela qual o proprietário
de um negócio apanha o telefone e demonstra um desejo e comprometimento
mais profundo que o do funcionário mais dedicado.
Há
vezes nas quais uma pessoa reavalia aquilo que faz. O negócio
está realmente dando lucro? É isso que desejo fazer
com minha vida?
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Há
vezes nas quais uma pessoa reavalia aquilo que faz.
O negócio está realmente dando lucro? Está atendendo
a minhas necessidades? É isso que desejo fazer com minha vida?
Seu verdadeiro envolvimento com o negócio continua como antes.
Ele continua a levantar da cama pela manhã, continua a dirigir
até o escritório, etc. Ele continua a "querer"
realizar estas ações no nível mais externo da vontade.
Porém os profundos elementos de sua vontade não estão
mais ali. Pode-se dizer que o negócio está "adormecido,"
animado apenas pela camada mais externa de sua alma.
Então acontece algo para reacender o desejo de nosso homem de negócios.
Talvez ele veja um número lucrativo no balanço anual, ou
uma projeção mais promissora para o futuro. Ou então
um determinado acordo que incorpora tudo aquilo que ele ama em seu negócio,
tudo que reafirma sua auto-visão e complementa suas metas. Suas
ações, secas e mecânicas em seu ínterim contemplativo,
são novamente infundidas com vida. É aí que o negócio
desperta de seu sono.
Ao ligar sua vida com valores mais profundos, ao fazer um balanço
de todos seus atos – "investimentos" – que cobrem
o curto, médio e o longo prazo, ele descobre que é possível
mudar, que o momento é agora e que a "bolsa de futuros"
é seu presente.
Uma bela maneira de domar a vontade é apontá-la na direção
correta. É por isto que ao escutar o som do shofar penetrando em
nossos ouvidos, captamos suas vibrações que percorrem nossos
canais interiores, rompendo nossas "cascas" e chegando lá,
em nosso maior investimento: nossa neshamá, alma judaica.
Ela ultrapassa todos os limites de todas as previsões de todas
as bolsas de valores.
Nossa Torá e nossas mitsvot: estas ações é
que contam! |
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