Chegou o dia de Yom Kipur, e ainda faltava um judeu para completar os dez necessários para a congregação. Começaram a sentir-se desesperados
 
  Imagem © Baruch Nachshon  
     
  O Décimo
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Há muitos anos, na antiga cidade de Chevron (Hebron), na estrada que leva à Gruta de Machpelá, havia um pequeno acampamento judeu. Viviam lá tão poucos homens adultos, que nem ao menos tinham um minyan (quorum formado por dez homens) para o Shabat.

Apenas ocasionalmente, se fossem suficientemente afortunados para "agarrar" um judeu ou mais, visitando a histórica Caverna de Machpelá, conseguiam rezar com um minyan. Quando isto acontecia ficavam extremamente felizes, pois estavam ansiosos por servir a D'us da melhor maneira possível, isto significa, com a presença de dez homens, número mínimo necessário para atrair a Presença Divina.

Certo ano, estavam especialmente preocupados porque Yom Kipur se aproximava, e não havia perspectivas de conseguirem formar um minyan.

Chegou o dia de Yom Kipur, e ainda faltava um judeu para completar os dez necessários para a congregação. Começaram a sentir-se desesperados, e embora muito atarefados, espalharam-se por todas as ruas principais, na esperança de que mesmo nesta hora, às vésperas do Grande Dia da Expiação, um milagre aconteceria e eles poderiam encontrar o décimo judeu.

O sol estava se pondo rapidamente, e sentiam o coração apertado ao voltarem para casa e prepararem-se para ir à pequena sinagoga rezar, houvesse ou não minyan.

O chazan (cantor) estava para iniciar a prece quando, para assombro de todos os presentes, entrou um judeu idoso, vestido em roupas velhas e simples, as costas curvadas, com uma sacola pendurada ao ombro.

Todos sentiram vontade de abraçá-lo, mas a hora era muito solene para estas coisas. Seus pensamentos concentraram-se na entoação de pungentes melodias, e preces saídas do fundo do coração.

O shamash, encarregado das tarefas que envolviam a sinagoga, gostaria de ter falado com este visitante misterioso após o final do Serviço, mas o estranho parecia tão imerso em pensamentos e preces, que decidiu deixá-lo em paz.

O visitante passou a noite na sinagoga, como o fizeram muitos dos membros da congregação. Como já mencionamos, os judeus do acampamento eram muito piedosos e tementes a D'us, e agradeceram humildemente ao Todo Poderoso por ter respondido sua prece enviando-lhes um décimo judeu, para que pudessem rezar com um minyan no mais sagrado dos dias - Yom Kipur.

     
 
O cantor estava para iniciar a prece quando, para assombro de todos os presentes, entrou um judeu idoso, vestido em roupas velhas e simples, as costas curvadas, com uma sacola pendurada ao ombro
 
     

Assim que Yom Kipur terminou, houve quase uma corrida para alcançarem o estranho homem que aparecera como um anjo vindo dos céus. Todos queriam ter a honra de levá-lo para casa consigo, a fim de quebrar o jejum. Quase tiveram uma altercação, até que o shamash muito sabiamente sugeriu que a solução mais justa seria "fazer um sorteio". Todos concordaram. Para grande alegria do shamash, que era um grande erudito de Torá, foi ele o escolhido para ter a honra de recepcionar o visitante.

O shamash estava ansioso para agradar ao hóspede, e não o incomodou com perguntas. Tudo que pôde extrair do homem foi que se chamava Avraham. Saíram juntos da sinagoga, e o shamash ficou satisfeito em levar adiante uma conversa meio que unilateral.

De repente, o shamash sentiu uma estranha quietude, e, perscrutando a escuridão da noite, percebeu que estava sozinho! O convidado desaparecera! Horror dos horrores! O que havia acontecido a Avraham?

"Avraham! Avraham!" gritou o shamash, correndo freneticamente de um lado para outro. Mas não houve resposta, e nenhum sinal de Avraham.

Tristemente, com o coração pesado de desapontamento, o shamash rapidamente fez meia-volta e contou aos judeus que iam para casa o terrível acontecimento. O pobre shamash estava desolado. Os bons judeus do acampamento ficaram tão preocupados em encontrar o visitante desaparecido, e então saíram com tochas, temerosos de que tivesse tropeçado e caído num poço, ou tivesse sofrido um acidente.

Após horas de buscas infrutíferas, todos voltaram tristemente para casa. O shamash, porém, não conseguia descansar, e apenas quando já rompia a madrugada caiu finalmente num sono sobressaltado, de pura exaustão.

Mal fechara os olhos, ou assim lhe parecia, quando Avraham apareceu. Porém estava agora ricamente vestido e parecia radiante.

"Não se preocupe, meu amigo", disse gentilmente ao shamash. "Como pode ver, estou perfeitamente bem. Sou o Patriarca Avraham. Suas preces atingiram-me aqui na Gruta de Machpelá, e o procurei, para que tivesse a satisfação espiritual de rezar em Yom Kipur com um minyan.

"Tão logo terminou minha missão, voltei aqui para meu local de descanso. Volte para seus amigos e diga-lhes para que não se preocupem. Nenhum acidente me aconteceu. Estou em paz. A paz esteja com você."

Nem bem estas palavras foram ditas, a visão desapareceu e o shamash acordou. Mal conseguiu correr rápido o suficiente até a sinagoga para informar aos seus amigos do maravilhoso sonho que tivera. A princípio mal podiam acreditar, mas sabiam que era um homem piedoso, e não poderiam duvidar de que era realmente o Patriarca Avraham o décimo homem no minyan.

Sentiram o coração repleto de grande alegria. Humildemente deram graças ao Todo Poderoso - o D'us de seu patriarca Avraham.

     
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