Coletânea de contos
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  Prece com intenção A corrente que amarra  
  Domínio público e particular Muito maior  
  Pecado e arrependimento Quem tem o direito de reclamar?  
  Um passo por vez Seja prático!  
  O pecado foi perdoado Não me deixe fazer uma bênção em vão  
  Rabi Zushia, o "Pecador" Uma possibilidade diferente  
  Repetindo a si mesmo Uma oração para D'us  
  Nosso dever    
       
       
   
   
  Prece com intenção  
     
 

Um notável professor judeu visitou certa vez Rabi Aryê Levin, um dia antes de Yom Kipur. Confessou que estava aborrecido, por não sentir-se diferente do habitual, apesar da chegada de Yom Kipur.

Rabi Aryê levantou-se num repente, agarrou as mãos do professor, e disse-lhe: "Invejo-o. Está preocupado sobre não ser capaz de rezar, ao passo que todas minhas preces são mecânicas. Com sua sensibilidade, estou certo de que na verdade rezará corretamente amanhã."

 
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  Domínio público e particular  
     
  Rabi Yisrael Salanter caminhava pela rua certo dia, pouco antes de Yom Kipur, quando encontrou outro judeu. Rabi Yisrael perguntou ao homem sobre sua saúde, e o homem começou a chorar histericamente.

Depois que Rabi Yisrael o acalmou, perguntou ao homem o que o aborrecia tanto. "Rebe," disse o homem, "estou apavorado pelo meu julgamento em Yom Kipur."

Percebendo que o comportamento do homem estava afetando outras pessoas na rua também, Rabi Yisrael disse-lhe: "Seu coração é um domínio privado. Dentro dele, pode chorar tanto quanto quiser. Por outro lado, seu rosto é de domínio público, e você não tem o direito de incomodar os outros com seus problemas pessoais."
 
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  Pecado e arrependimento  
     
 

Quando Rabi Yechiel, neto de Rabi Baruch de Medzibush, era uma criança pequena, perguntou ao avô: "Se D'us sabe de tudo, por que Ele chamou Adam, o primeiro homem, após o pecado e disse: 'Onde está você?' "

Rabi Baruch ouviu, mas nada respondeu.

Algum tempo depois, Rabi Baruch perguntou ao pequeno Yechiel: "Quer brincar de esconde-esconde?"

O menino ficou encantado e correu para esconder-se. Esperou e esperou, mas nada do avô aparecer para procurá-lo. Finalmente, desistiu e saiu do esconderijo.

O avô, percebeu ele, estava sentado à sua mesa e não tinha ainda tentado procurá-lo. O pequeno Yechiel começou a chorar. "Vovô, esqueceu de mim! Nem ao menos tentou procurar-me!" chorou ele.

"Isto," disse Rabi Baruch, "é a resposta à sua pergunta. É claro que D'us sabia onde Adam estava. Adam, entretanto, cometera dois pecados: comer o fruto da árvore e tentar se esconder do Senhor do Universo. Se D'us não tivesse ido 'procurar' Adam, este não teria conseguido sobreviver, por causa de sua vergonha. Ao 'procurar' por Adam, Hashem deu-lhe a oportunidade de fazer contato com Ele novamente, para que pudesse uma vez mais ficar face a face com seu Criador."

 
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  Um passo por vez  
     
 

Rabi Yisrael Zalman de Charchov, um discípulo de Rabi Avraham de Slonim, certa vez reclamou com Rabi Avraham:

"Rebe, trabalhei tanto durante toda minha vida para fazer teshuvá (arrependimento), e mesmo assim não consigo notar a menor alteração em meu caráter. Que posso fazer?"

Rabi Avraham replicou: "Imagine um homem que está preso no barro até os tornozelos. A cada passo que dá, afunda novamente no barro. Talvez pense que não está conseguindo nada com estes passos, mas a verdade é que cada passo o aproxima mais da terra seca."

 
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  O pecado foi perdoado  
     
 

Rabi Simcha Bunim de Psishcha estava certa vez sentado com seus chassidim, quando resolveu perguntar: "Como sabem que um pecado foi perdoado?" Todos os chassidim aventuraram-se em diversas respostas, mas nenhuma satisfez Rabi Simcha Bunim.

Finalmente, ele mesmo respondeu a pergunta. "Um pecado foi perdoado," disse ele, "quando a pessoa não mais o repete."

 
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  Rabi Zushia, o "Pecador"  
     
 

Quando Rabi Zusha de Anipoli presenciava uma pessoa cometendo um pecado, jamais a repreendia. Em vez disso, esperava até que a pessoa estivesse perto dele e começava a dizer para si mesmo: "Zusha, como você pôde cometer tal e tal pecado? Zusha, não percebe que terá de prestar contas de suas ações no Mundo Vindouro? Que vergonha, Zusha!"

Repetia isso inúmeras vezes, chorando amargamente, até que a outra pessoa percebia a gravidade de seu pecado e se arrependia.

 
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  Repetindo a si mesmo  
     
 

O Maguid de Kelm tinha um certo número de sermões que repetia freqüentemente. Um pecador que não se arrependera certa vez perguntou-lhe: "Rabi, por que sempre repete os mesmos sermões de novo e de novo?"

"Por que," retorquiu o Maguid, "você repete os mesmos pecados de novo e de novo?"

 
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  Nosso dever  
     
 

Um homem foi certa vez chorando ao Rabi Asher de Stolin. Havia cometido um daqueles pecados para os quais o arrependimento não é suficiente para purgar a ofensa.

Rabi Asher disse-lhe: "Que diferença deveria fazer para você? É seu dever arrepender-se de qualquer forma, e não se preocupar se seu arrependimento é aceito ou não. Se teme perder seu lugar no Mundo Vindouro, saiba que uma hora de arrependimento neste mundo vale mais que todo o Mundo Vindouro."

 
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  A corrente que amarra  
     
 

Na época da expulsão dos judeus da Espanha, inúmeros judeus fingiram converter-se ao catolicismo para salvar suas vidas. Dentre esses estava Don Manuel, conselheiro muito próximo ao Rei Fernando.

Por fim, a Inquisição descobriu que Don Manuel era na verdade um judeu praticante, e ele foi condenado à morte na fogueira.

Na hora aprazada para a punição de Don Manuel, o próprio Rei Fernando compareceu para presenciá-la. O soberano ofereceu a Don Manuel uma última chance. "Don Manuel," disse o rei, "se me prometer que irá tornar-se um bom católico e jamais adotar novamente quaisquer práticas judaicas, pouparei sua vida."

Don Manuel olhou em volta freneticamente e começou a gritar: "A corrente! A corrente! Como pode uma corrente ser quebrada?"

"Que corrente?" disse o rei. "Don Manuel, não há corrente alguma segurando-o."

"A corrente!" gritou Don Manuel. "A corrente que me liga a meus pais Avraham, Yitschac e Yaacov (Abraão, Isaac e Jacó) - como pode a corrente ser quebrada? Como posso concordar em permitir que aquela corrente seja quebrada?"

Então, com Shemá Yisrael nos lábios, Don Manuel caminhou para a morte.

 
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  Muito maior  
     
  Rabi Simcha Zissel de Kelm costumava dizer: "Aquele que tenta seduzir outra pessoa à adoração de ídolos está sujeito a pena de morte, tenha ou não sucesso. Como sabemos que a misericórdia de D'us é muito maior que Sua ira, imagine a recompensa para aquele que tenta trazer outra pessoa à teshuvá, retorno, mesmo que não o consiga!"  
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  Quem tem o direito de reclamar?  
     
 

Um jovem que passara muitos anos na Yeshivá de Volozin tornou-se um livre-pensador. Anos depois, estava ele em uma certa estalagem quando encontrou seu antigo diretor.

"Como vai? Como vão as coisas?" perguntou o diretor.

"Muito bem, obrigado," replicou o ex-aluno. "Tenho boa saúde e estou ganhando bem. Não tenho reclamações sobre D'us."

"Não é esta a questão," disse o diretor. "A questão é saber se D'us tem alguma reclamação sobre você."

 
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  Seja prático!  
     
 

Um judeu abastado fez uma viagem especialmente para consultar-se com o Rebe de Lubavitch, Rabi Yossef Yitschac Schneerson, sobre uma grande fusão comercial. Após ouví-lo com atenção, o Rebe sugeriu-lhe que tomasse um determinado rumo.

Em seguida, o Rebe começou a falar ao homem sobre sua vida pessoal, percebendo logo que o homem e sua família eram omissos no cumprimento de mitsvot, preceitos judaicos. O Rebe, naturalmente, insistiu com o homem para que mudasse este aspecto de sua vida.

"Rebe, o senhor não entende," replicou o homem. "Embora suas idéias sejam muito corretas, simplesmente não são práticas para as circunstâncias em que vivo."

"Não consigo entendê-lo," disse o Rebe. "Viajou cinco mil quilômetros em busca de meu conselho nos negócios, e está disposto a aceitar estes conselhos embora eu esteja longe de ser um homem de negócios. Mas quando se trata de mitsvot, área na qual meus antecessores e eu somos especialistas, não quer me dar ouvidos."

 
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  Não me deixe fazer uma bênção em vão  
     
 

Rabi Levi Yitschac de Barditshev disse:

"Por que, quando rezamos em Yom Kipur, concluímos a bênção da Amidá, prece silenciosa, com as palavras: 'Rei que perdoa e desculpa nossos pecados'? E se Ele não perdoar nossos pecados, somos então culpados por termos feito uma bênção em vão?

"Deixe-me contar-lhes uma parábola. Uma criança pequena vê o pai segurando uma maçã. Percebe que, se pedir ao pai a maçã, pode conseguí-la ou não. O que faz a criança inteligente? Faz uma bênção sobre a maçã em voz alta. O pai tem duas possibilidades: ou ignora a criança, desta maneira forçando-a a ser culpada de fazer uma bênção em vão, ou deseja evitar que cometa um pecado e portanto lhe dá a fruta. É claro que, sendo pai, escolherá a segunda opção."

 
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  Uma possibilidade diferente  
     
 

Na véspera de Yom Kipur, o Báal Shem Tov foi visto passeando alegremente pela rua. Um homem parou-o e perguntou-lhe por que estava tão contente, quando todos estavam solenes, refletindo sobre o Dia do Julgamento que se aproximava. "Afinal," disse o homem, "se seu veredicto for negativo, você certamente não terá razão para alegrar-se. E se está feliz porque está convencido de que seu veredicto será favorável, isto não é soberbo?"

"O veredito me é completamente irrelevante," replicou o Báal Shem Tov. "Estou contente por existirem, tanto um Juiz, como um julgamento neste mundo."

 
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  Uma oração para D'us  
     
 

Um chassid certa vez precisou passar Yom Kipur em S. Petersburgo, porque tinha um assunto urgente a respeito da população local que precisava resolver no dia seguinte a Yom Kipur.

Na noite solene em que inicia-se Yom Kipur e a prece de Col Nidrê é recitada, dirigiu-se à única sinagoga onde era possível ir à pé. Esta era exclusivamente composta de cantonistas - homens que haviam sido raptados pelas tropas do Czar para servirem no exército russo por um período de vinte e cinco anos. Apenas judeus que serviam o exército russo tinham permissão de viver na capital. Naturalmente, estes homens pouco sabiam, tendo passado a maior parte de suas vidas em áreas remotas do Império Russo.

Ao se aproximarem da prece de Col Nidrê, um velho cantonista levantou-se para falar aos homens presentes, do seguinte modo:

"Meus irmãos, todos sabemos que nesta época, os judeus voltam-se para D'us e Lhe pedem três coisas: filhos, vida e sustento. Pelo que rezaremos? Deveremos rezar por filhos? Claro que não - não podemos casar porque estamos no exército. Rezar pela vida? De que vale nossa vida?
Deveremos rezar pelo nosso sustento? Temos nossa comida fornecida pelo Czar. Dessa maneira, queridos irmãos, nada há pelo que devamos rezar e pedir para nós.

"Tudo aquilo pelo que podemos orar é que Yitgadal Veyitcadash Shemê Rabá! - Que o grande nome de D'us seja exaltado e santificado!"

Ouvindo isto, todos irromperam em lágrimas. O chassid relatou que aquele Yom Kipur foi o mais empolgante de toda sua vida.

 
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