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"Todos
os judeus que são conscientes de sua identidades como judeus estão
impregnados de história" – escreveu Sir Isaiah Berlin.
"Eles têm lembranças mais longas, estão cônscios
de uma continuidade mais longa como comunidade que qualquer outra que
tenha sobrevivido."
Ele estava certo. O Judaísmo é uma religião de memória.
O verbo zachor, lembrar, aparece nada menos que 169 vezes na Torá.
"Lembrem-se que vocês eram estrangeiros no Egito." "Lembrem-se
dos dias de antigamente." "Lembrem-se do sétimo dia para
mantê-lo sagrado."
A memória, para os judeus, é uma obrigação
religiosa.
Para
ser livre, é preciso abandonar o ódio. Transforme-o
numa bênção, não numa maldição;
numa fonte de esperança, não em humilhação.
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Especialmente nesta
época do ano. Nós a chamamos de "três semanas",
que nos conduz ao dia mais triste no Calendário Judaico, Nove de
Av, aniversário da destruição dos dois Templos, o
primeiro por Nabucodonosor, Rei da Babilônia em 586 AEC e o segundo
por Titus, em 70 EC.
Os judeus jamais esqueceram aquelas tragédias. Até hoje,
em todo casamento, quebramos um copo em sua memória. Durante as
três semanas, não temos celebrações. Em Nove
de Av passamos o dia jejuando, sentados no chão ou em assentos
baixos como enlutados, lendo o Livro das Lamentações. É
um dia de profundo luto coletivo.
Dois mil e quinhentos anos é um longo tempo para recordar. Muitas
vezes me perguntam – geralmente em conexão com o Holocausto
– é realmente certo recordar? Não deveria haver uma
moratória no luto? A maioria dos conflitos étnicos no mundo
não é alimentada por lembranças de antigas injustiças?
O mundo não seria mais pacífico se de vez em quando esquecêssemos?
Sim
e não. Depende de como nos lembramos. Meu falecido predecessor
Lord Jacobovits costumava enfatizar um fato fascinante. Três vezes
no Livro de Bereshit D’us é mencionado como tendo Se lembrado.
"D’us Se lembrou de Nôach" e tirou-o da Arca para
a terra firme. "D’us Se lembrou de Avraham" e salvou seu
sobrinho Lot da destruição das cidades da planície.
"D’us Se lembrou de Raquel" e deu um filho a ela. Quando
D’us Se lembra, Ele o faz para o futuro e para a vida.
De fato, embora as duas sejam confundidas com freqüência, memória
é diferente de história. A história é sobre
eventos ocorridos há muito tempo com outra pessoa. Memória
é a minha história. Trata de onde eu vim e de qual narrativa
eu faço parte. A história responde à pergunta: "O
que aconteceu?" A memória responde a pergunta. "Quem,
então, sou eu?" É sobre identidade e a conexão
entre as gerações. No caso da memória coletiva, tudo
depende de como relatamos a história.
Não nos lembramos para buscar vingança. "Não
odeiem os egípcios" – disse Moshê – "pois
vocês foram estrangeiros na terra deles." Para ser livre, é
preciso abandonar o ódio. Transforme-o numa bênção,
não numa maldição; numa fonte de esperança,
não em humilhação.
Prezo
a riqueza de saber que minha vida é um capítulo
num livro iniciado pelos meus ancestrais há muito tempo,
ao qual acrescentarei minha contribuição antes de
entregá-lo aos meus filhos
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Até hoje, os
sobreviventes do Holocausto que conheço passam o tempo partilhando
suas lembranças com os jovens, não por vingança,
mas o oposto: para ensinar tolerância e o valor da vida. Cientes
das lições de Bereshit, nós também tentamos
nos lembrar para o futuro e para a vida.
Na cultura apressada de hoje, desprezamos atos de recordação.
A memória dos computadores aumentou, enquanto que a nossa encolheu.
Nossos filhos não memorizam mais trechos de poesia. Seu conhecimento
de história é muito vago. Nosso senso de espaço se
expandiu. Nosso senso de tempo encolheu. Sociedades, como indivíduos,
podem sofrer do Mal de Alzheimer.
Isso não pode estar certo. Um dos maiores presentes que podemos
dar aos nossos filhos é o conhecimento de onde nós viemos,
as coisas pelas quais lutamos, e por quê. Nenhuma das coisas que
valorizamos – liberdade, dignidade humana, justiça –
foi conquistada sem conflito. Nem pode ser sustentada sem uma vigilância
consciente. Uma sociedade sem memória é como uma jornada
sem mapa. É muito fácil se perder.
Quanto a mim, prezo a riqueza de saber que minha vida é um capítulo
num livro iniciado pelos meus ancestrais há muito tempo, ao qual
acrescentarei minha contribuição antes de entregá-lo
aos meus filhos. A vida tem significado quando é parte de uma história,
e quanto maior a história, mais nossos horizontes se expandem.
Além disso, as coisas lembradas não morrem. É o mais
próximo que podemos chegar da imortalidade na terra.
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