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Sair
de Casa Durante a Shivá
A tradição mais característica do luto judaico é
o retiro do enlutado no recesso de seu lar após a morte de um parente
próximo. Ele não se mistura socialmente, não participa
de eventos alegres ou faz viagens recreativas durante essa época.
Esta tradição de ficar em casa está baseada, geralmente,
em dois motivos. Primeiro, uma razão prática: se ele está
proibido de fazer negócios ou experimentar prazeres, a casa é
o local mais lógico para ficar. Segundo, isso tem um valor positivo,
que ajuda a curar: o luto é um profunda experiência em solidão.
Os vínculos que ligam uma alma a outra foram cortados, e há
um grande senso de solidão. Permanecer incomunicável é
expressar sofrimento pela ruptura da comunicação com alguém
que amamos. Em determinadas ocasiões a pessoa tem o direito, até
uma obrigação, de ficar sozinha. Esta é uma delas.
O enlutado, portanto, fica em casa durante todo o período de shivá.
Torna-se então o dever moral da comunidade judaica ir à
porta do enlutado e confortá-lo com palavras elogiosas sobre o
falecido, dessa forma tirando-o da solidão e encaixando-o novamente
na estrutura social.
A seguir alguns detalhes sobre a lei de permanecer em casa durante a shivá:
1 – Se há uma forte necessidade de o próprio enlutado
sair de casa para cumprir pessoalmente uma mitsvá, como a circuncisão
de um filho, ou a compra de tefilin, que outros não podem cumprir
por ele, então pode sair de casa para esse fim.
2 – O enlutado não pode sair de casa para participar de uma
mitsvá que pode ser cumprida sem a sua presença, como comparecer
a um bar mitsvá, a circuncisão do filho de um parente ou
amigo, comparecer a um casamento ou prestar condolências a outros
enlutados.
3 – Se a casa de shivá não tem lugar disponível
para os enlutados dormirem, ou se eles são necessários em
sua própria casa (especialmente se um dos enlutados é mãe
de filhos pequenos), ou se o enlutado deseja mudar o local do luto para
que amigos pessoais e vizinhos possam ter a oportunidade de fazer uma
visita, eles têm permissão de deixar a casa de shivá.
Devem fazer isso, porém, da maneira abaixo descrita.
4 – Se durante a shivá ocorrer a morte de outro dos sete
parentes próximos para quem a pessoa está religiosamente
obrigada a se enlutar, ela pode deixar a casa para acompanhar o funeral,
sem fazer alarde disso. Se ele é necessário para fazer os
arranjos do funeral ou agir como carregador do féretro, etc., ele
pode comparecer ao funeral mesmo durante o primeiro dia de shivá
(ou seja, a segunda manhã após o enterro). No funeral ele
pode acompanhar o corpo do falecido por uma curta distância, sempre
permanecendo na periferia do cortejo.
5 – Se não há minyan que possa ir à casa e
se, de acordo com as qualificações acima estipuladas, ele
escolhe freqüentar o serviço, ele deveria rezar na sinagoga
mais próxima. Deve ir sozinho, ou na companhia de outros enlutados.
Se ele estiver de carro, considera-se que está sozinho. A distância
que ele é obrigado a viajar não tem importância. Deve-se
notar que o enlutado não pode usar essa ocasião para fazer
qualquer coisa, exceto comparecer aos serviços.
6 – A necessidade de sair de casa para assuntos profissionais, ou
emergências, será considerada num capítulo abaixo,
sobre trabalho durante shivá.
7 – Um mohel pode sair de casa para realizar uma circuncisão,
pois isso deve ser realizado somente no oitavo dia após o nascimento.
Se não houver outro mohel disponível, ele pode fazê-lo
até mesmo no primeiro dia de sua shivá. Se houver outro
mohel disponível, mas somente seus serviços são desejados,
ele pode fazer a circuncisão, desde que ocorra depois do terceiro
dia do período de shivá.
8 – Um Cohen, exigido para um pidyon ha'ben (redenção
cerimonial do filho primogênito, que deve ser realizada somente
no 30º dia após o nascimento), segue o mesmo regulamento aplicado
ao mohel.
9 – O enlutado pode ser solicitado a servir como sandac num berit
após o terceiro dia, mas é considerado impróprio
fazer este pedido a ele. Uma pessoa de luto certamente terá sentimentos
ambivalentes sobre aceitar esta honra.
10 – O enlutado deveria comparecer aos serviços congregacionais
em Tishá Beav e Purim. Se um minyan e Rolos de Torá não
estão facilmente disponíveis, ele deveria também
rezar com uma congregação no Shabat.
11 – Deve-se fazer todos os esforços para não deixar
a casa de shiva até o terceiro dia – ou seja, (como explicado
acima) a segunda manhã após o enterro. Ele deveria fazer
o possível para sair apenas após escurecer. Se isso não
se provar prático, pode sair durante o dia, mas deve proceder tão
discretamente quanto possível. Não deve usar sapatos de
couro, nem mesmo fora da casa, como se verá mais abaixo. Se isso
for impossível, deve colocar alguma terra ou areia em seus sapatos,
causando-lhe desconforto como um constante lembrete de que está
de luto. Em todas as situações complicadas, obviamente,
um rabino deve ser consultado.
"Sentar" shivá
É uma antiga tradição judaica que os enlutados, durante
a shivá, não se sentem em cadeiras de altura normal. Até
os tempos modernos era costume sentar-se sobre a própria terra,
um procedimento que demonstrava o afastamento da normalidade durante os
primeiros estágios do sofrimento. Assim, era expresso o sentimento
de solidão que a pessoa sentia após seu ente querido ser
enterrado na própria terra sobre a qual ele se sentava. A Torá
nos diz que quando Job sofreu uma sucessão de desastres, ele foi
confortado por amigos que se sentaram com ele "sobre a terra".
Isso é, num sentido quase literal, um ajuste físico ao estado
emocional da pessoa, abaixar o corpo ao nível dos próprios
sentimentos, uma encenação simbólica de remorso e
desolação.
O enlutado atual senta-se "na terra", segundo a expressão
bíblica, ao sentar-se próximo da terra num banco de madeira
ou banquinho de apoio para os pés, num capacho ou sobre algumas
almofadas. O material que o enlutado escolhe para sentar-se é,
na atual situação, irrelevante. Não é o banco
que é importante. Primeiramente, estipula a tradição,
ele deve sentar-se num nível mais baixo que o assento normal e
se é ou não confortável não vem ao caso. Se
ele desejar, pode colocar uma almofada sobre o banco. Dormir numa cama
de altura normal é permitido.
Listamos abaixo alguns detalhes sobre a tradição de sentar
shivá:
1 – A pessoa não precisa "sentar" durante a shivá.
Pode ficar de pé ou deitar. A tradição diz respeito
apenas ao fato de que, quando o enlutado se senta, deve fazê-lo
sobre um assento mais baixo que o usual.
2 – Pessoas idosas, os fisicamente fracos, e mulheres grávidas
podem sentar-se em cadeiras normais. No entanto, devem fazer um esforço,
se possível, para sentar-se num banco baixo quando chegam os visitantes
que vieram confortar os enlutados. Este luto demonstrativo é o
aspecto mais importante da tradição de "sentar",
e deveria ser levado muito a sério.
3 – O enlutado não precisa levantar-se de seu assento em
respeito por qualquer visitante, mesmo que esse seja importante, um renomado
erudito ou uma personalidade pública.
4 – Se o enlutado deseja sentar-se na entrada da casa ou terraço,
pode fazê-lo, desde que se sente num banco baixo. |