A Primeira Refeição

 
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  Por Maurice Lamm
 

Depois do funeral, a primeira refeição de um enlutado não pode ser preparada por ele próprio. A prática é baseada numa passagem de Yechezekel 24:17 que fala negativamente das práticas de luto então vigentes e diz: “… e não comas o pão do homem.” Portanto, é considerada uma mitsvá que os amigos, vizinhos ou parentes do enlutado lhe forneçam a primeira refeição, que é denominada “refeição do consolo.”

É ingerida em silêncio e não é compartilhada pelos visitantes. As próximas refeições poderão ser normalmente preparadas pelo enlutado.

Caso o enterro seja realizado há poucas horas da véspera de Shabat ou Yom Tov (em torno de 2h) esta refeição não será necessária. Mas deverá ser servida nos Dias Intermediários de Pêssach e Sucot (chol hamoed), embora não haja shivá.

É muito importante considerar todas as possíveis necessidades dos enlutados e tentar ajudar. As necessidades incluem: Arranjar os minyanim, preparar as refeições, contactar outros visitantes em potencial, cuidar das crianças, etc.

A primeira refeição completa que os enlutados fazem ao voltar do enterro, é tradicionalmente fornecida pelos vizinhos do enlutado. Esta cortesia básica era considerada tão importante que alguns pensadores religiosos afirmam que foi biblicamente ordenada. De fato, os Sábios do Talmud Jerusalém admoestaram os vizinhos que fizeram o enlutado comer a refeição preparada por ele próprio.

Este lindo costume, que poderia parecer estranho para alguns judeus encerra uma profunda percepção psicológica. Um astuto rabino medieval, obviamente da era pré-freudiana, observou que o enlutado abriga um forte desejo de morte no momento em que regressa para casa, para o ambiente familiar agora privado de calor e vida. Ele deseja se juntar ao seu ente querido. Neste estado de espírito, ele tende a privar-se de alimento para atingir uma morte simbólica. De fato, um comentário ouvido com freqüência é: "Quem pode comer quando meu marido jaz ali na terra fria?"

Outro aspecto da refeição de condolências é que constitui a segunda expressão formal de consolo. A primeira, como mencionado acima, é a fila de amigos entre os quais o enlutado passa à medida que eles saem da proximidade do túmulo. Este é um tributo silencioso, com somente uma fórmula hebraica de condolências, mas é um testemunho eloqüente de que partilhamos as dores da angústia de nosso vizinho.

Este segundo estágio de condolências nos leva um passo mais próximos ao enlutado em seu estado de angústia; saímos do papel de espectador para o de participante, do sentimento ao serviço. Levamos ao enlutado o sustento da vida, literal e figuradamente, o "pão" da existência. É por isso que esta refeição de condolência é obrigatória aos vizinhos, e não aos enlutados.

Essa expressão de consolo deveria, por ser a primeira, transcorrer em silêncio. Não deve ser uma ocasião para socializar ou para bater papo. Isso é desencorajado durante o período de luto.

A terceira ocasião formal de consolo, a visita de shivá, é a hora aprazada para o início da verbalização do sentimento de perda do enlutado. Aqui, também, os rabinos insistem com os visitantes para que se sentem em silêncio até que o próprio enlutado deseje falar. Mesmo então, é aconselhável que os visitantes falem apenas sobre o assunto da morte em família.

O menu da refeição de condolências


1 – No mínimo, deverá incluir pão – o sustento da vida. Deveria também incluir ovos cozidos duros, símbolo da natureza cíclica e contínua da vida. Alguns explicam que o ovo é o único alimento que quanto mais se cozinha, mais endurece, e o homem deve aprender a endurecer-se quando a morte ocorre [outra razão é que os ovos não têm uma abertura, para demonstrar que o enlutado é incapaz de falar]. É um costume o enlutado comer lentilhas como símbolo do luto [conforme é feito em Seudat Hamafsêket em Tishá Beav, onde antes do jejum costuma-se comer um ovo como último alimento, em lembrança a destruição do Templo Sagrado de Jerusalém]. A refeição de condolências deve também incluir legumes cozidos, e para beber café ou chá.

2 – A refeição de condolências deve ser a primeira refeição feita no dia do enterro. Este mandamento refere-se apenas à primeira refeição, e não à segunda do dia nem, se os enlutados preferirem jejuar, à refeição feita depois do anoitecer do dia seguinte. Obviamente, se os vizinhos se atrasarem involuntariamente, ou se não conhecerem o costume, a refeição deve ser aceita da maneira mais gentil. Se o enterro ocorreu à noite, a hora para a primeira refeição é considerada como sendo a noite toda ou a qualquer hora durante o dia seguinte.

3 – Quem deve preparar a refeição?
O ideal, como já foi dito, é que os vizinhos o façam. Se não o fizerem, os parentes ou o filho ou filha do enlutado podem cumprir essa mitsvá. Se isso não for possível, os enlutados podem preparar a refeição um para o outro.
Se não há ninguém para cumprir esse mandamento, o enlutado pode preparar sua própria refeição. Não se espera que o enlutado jejue.
Se a refeição de condolências não estiver pronta quando os enlutados regressarem do funeral, eles podem fazer um lanche leve preparado por eles mesmos, como café e bolo, desde que não comam pão ou alimentos cozidos, nem se sentem à mesa como numa refeição formal.

4 – Quando a refeição de condolências não é servida?
Não é servida quando não há observância pública e formal de luto, como no Shabat ou Grandes Festas (Pêssach, Shavuot e Sucot), ou nos finais das tardes precedendo estes dias. No entanto, a refeição deveria ser servida em dias de Rosh Chôdesh, Chanucá, Purim e chol hamoed.
Esta refeição também não é servida para aqueles que pranteiam a morte de bebês que não chegaram a viver trinta dias, e após a morte de suicidas intencionais. Além disso, se a notícia da morte de um parente próximo chegou mais de trinta dias depois, a refeição não é servida.

5 – Se uma segunda morte ocorrer durante a shivá, outra refeição de condolências deve ser servida.


Do livro “Os Últimos Momentos”
Por Rabino Shamai Ende

A primeira refeição do luto - Seudat Havraá

1. É proibido a um enlutado, comer a primeira refeição do dia do enterro após o enterro de sua própria comida(Há alguns motivos para isto: 1) para que o enlutado não esqueça de seu luto dedicando-se a comida e bebida; 2) para que as pessoas tragam-lhe comida para poder consolá-lo; 3) para que ele não deixe de comer por causa da amargura do luto, nossos sábios instituíram que outros devem alimentá-lo) podendo apenas comer de uma comida que lhe foi trazida por outros. É uma Mitsvá a seus vizinhos e amigos trazerem-lhe esta refeição que é chamada de Seudat Havraá. Costuma-se servir nesta refeição ovos duros e pão. Muitos costumam trazer um pão em forma de rosca (tipo beiguel). O enlutado come esta refeição sentado no chão ou em um lugar baixo.O enlutado não deve descascar sozinho o ovo, para não parecer esfomeado.

2. Deve-se trazer também algo para beber, e alguns costumam trazer vinho. No entanto, o enlutado não pode beber vinho até se embriagar.

3. Não se deve trazer esta refeição em utensílios importantes de prata ou cristal, para não envergonhar aqueles que não tem possibilidade.

4. Após o término desta refeição (após a recitação da bênção final), o enlutado já pode comer de sua própria comida mesmo no dia do enterro.

5. Antes desta refeição e durante a mesma, o enlutado não deve comer nada de sua propriedade. De preferência não deve nem beber. Se não há ninguém na cidade que pode trazer ao enlutado comida, este pode comer de sua própria. Alguns costumam porém jejuar até o anoitecer neste caso.

6. Caso o enterro terminou antes do final da tarde e o enlutado só chegou em casa após o anoitecer, este já pode comer de sua própria comida não sendo necessário fazer a seudat havraá. Caso o enterro terminou após o anoitecer, deve-se trazer esta refeição de noite após a volta do enterro sendo este proibido de comer de sua comida antes que lhe tragam esta refeição.

7. Um homem deve trazer esta refeição a um enlutado homem, e uma mulher para outra e não o contrário. Porém se uma família enlutada de homens e mulheres estão sentados juntos, qualquer um pode trazer-lhes esta refeição.

8. Se o enterro ocorreu na véspera de Shabat ou Yom Tov, e o enlutado chegou em casa após o início da décima hora do dia, (aproximadamente 2 horas antes do Shabat) não deve-se trazer esta refeição, porém se o enlutado está com fome deve pedir algo do vizinho para comer.

9. Se o falecimento ocorreu no Shabat ou Yom Tov, e o enterro ocorreu no dia seguinte, não se faz esta refeição podendo o enlutado comer de sua comida.

10. Se o enterro ocorreu em Purim, traz-se uma refeição com outros alimentos (como carne e vinho) e o enlutado come sentado à mesa. Se o enterro ocorreu em Chol Hamoed, traz-se uma refeição com bolos ou bolachas e uma bebida como café e o enlutado come sentado no sofá ou à mesa.
 

 

 
   
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