Vida e Morte – CADISH: Pelo quinto yahrtzeit de meu pai

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  Por Rabino YY Jacobson
 

Esta noite, segunda-feira, meus irmãos e eu comemoraremos o quinto yahrtzeit (aniversário de falecimento) de meu querido pai, Sr, Gershon Jacobson, que faleceu há cinco anos em 20 de Iyar, 29 de maio de 2005.

Com aquele sentimento especial reservado às pessoas que foram forçadas a ver a terra se fechar sobre um ente querido, irei à sinagoga para recitar as preces do kadish, conectando-me com a memória entusiasmante e inspiradora de meu pai.

Quando eu recitar o kadish, terei em mente um jovem amigo meu, Nosson Deitch, que faleceu em Lag BaOmer, num acidente de barco na Flórida. Sinto um nó na garganta enquanto escrevo essas palavras, sobre uma aula linda, majestosa e sincera, cuja morte súbita aos 21 anos é realmente inexplicável e devastadora, acima de qualquer palavra.

O Kadish
“Yeesgadal veyeeskadash shemey rabá”

“Exaltado e louvado seja Seu Grande Nome”

Estas são as palavras que iniciam a prece do kadish. A omissão mais flagrante no kadish é a alma do falecido. Nem sequer é feita a menor menção do nosso ente querido. O kadish inteiro se concentra exclusivamente no Divino, exaltando a grandeza de D'us e de Seu grande Nome. Por quê?

Quando meus irmãos e eu terminamos de recitar o kadish pelo meu pai 11 meses após seu falecimento, meu irmão mais velho, Rabino Simon Jacobson, escreveu um artigo profundo sobre o kadish. Ele propôs a seguinte resposta. A morte, como a conhecemos, transcende o vocabulário humano. Não há palavras que possam captar ou fazer justiça à dor da morte.

Intelectualmente, pode-se entender que uma alma nunca morre; que a morte é somente o início de uma nova vida numa dimensão diferente. Mas emocionalmente, existe algo sobre a morte que é sempre inexplicável e jamais poderá ser completado. Todas as explicações do mundo e além não poderiam eliminar as lágrimas, a tristeza, e talvez ainda mais, o senso de finalidade.

A primeira e fundamental resposta à morte é que não há resposta. Até Mashiach vir brevemente em nossos dias, a morte jamais poderá encontrar um espaço confortável em nossos corações.

O kadish sabe que nada realmente pode ser dito para consolar-nos das nossas perdas; não há palavras que possam minimizar os efeitos da experiência da morte. Então, sobre o que falamos no kadish? Não recordamos a vida do falecido, que nos foi tirado. Em vez disso, falamos sobre a origem de toda a vida, da qual nascimento e morte fluem igualmente. “Yeesgadal veyeeskadash shemey rabá” – Exaltado e louvado seja Seu grande Nome. “Yehey shemey rabá mevarach lealam ulealmey almahyá” – Que Seu grande Nome seja bendito para sempre e para toda a eternidade”.

Em vez de discutir a morte da pessoa para quem recitamos o kadish, algo que desafia a nossa sensibilidace, entramos num local que transcende vida e morte. Subimos a escada da consciência para o domínio da eternidade, que tanto precede quanto segue toda a existência, que está presente antes de nosso nascimento e continua presente após a nossa morte.

O kadish insiste que a vida mortal e frágil do ser humano está intimamente conectada com a fonte eterna de toda a vida e a fonte cósmica de toda a realidade.

Para nós seres humanos que estamos vivos e que somos definidos pela nossa dimensão da realidade, observamos apenas uma parte da jornada da alma. Porém o kadish nos convida a nos conectarmos com a alma imortal do falecido, e com a fonte de toda a imortalidade.

Qual a aplicação prática que isto tem para nós? Serei sincero e direi que não faço ideia. O vazio continua e a dor persiste. Porém de alguma forma eu também encontrarei um pouco de consolo nas palavras do kadish, declarando que meu pai morreu mas não está morto, e que ao descobrir “Seu grande Nome”, eu posso descobrir a fonte e o segredo também da vida de meu pai.

 

 

 
   
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