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O
que significa a vida após a morte? Uma das explicações
mais simples é: se a pessoa pensa que foi eficaz enquanto vivia,
quanto mais eficaz ela pode ser depois de seu passamento. Há ocasiões,
muito freqüentes, em que um pai ou mãe quer algo de seu filho,
pede, grita, implora, azucrina. De repente, um
deles morre e o filho quer fazer o que pedia. Os pais exercem melhor seus
papéis depois que se vão. Existe uma força na alma
que desencarna. Quando não está mais restrita ao corpo sua
influência não se perde; ao contrário, se torna muito
mais forte.
O TaImud conta uma bela história. Quando Rabi Yehudá Hanassi,
autor da Mishná, faleceu, foi-lhe dada uma recompensa especial
para uma de suas
Mitsvot favoritas - o Shabat. Como ele gostava muito de ver sua família
preparar e celebrar o Shabat, lhe foi permitido voltar a este mundo e
visitar sua família
sempre nas noites de sexta-feira.
O Rebe Anterior, ainda na cidade de Lubavitch, era uma criança
muito dotada. Seu pai freqüentemente lhe pedia para descrever algumas
das histórias do Talmud que ele tinha estudado em sua aula no Chêder.
0 menino tinha extraordinário talento para descrever vivamente
as cenas e histórias de modo que elas se tornavam reais. Este menino
tinha um costume interessante. Havia em sua casa um quarto que pertencera
a seu avô, já falecido. O quarto foi deixado intacto após
o passamento do avô. Havia lá uma escrivaninha, uma
cadeira, estantes de livros e, a um canto do quarto, uma grande cadeira
estofada - imensos e velhos móveis russos.
Quando o menino tinha oito ou nove anos e chegava do Chêder, ele
entrava naquele quarto que ninguém usava, subia na imensa cadeira,
afundava-se nas almofadas, fechava os olhos e repassava tudo o que o professor
havia ensinado naquele dia. Grande parte do que era ensinado era em forma
de histórias e ele revisava uma história atrás da
outra, enfeitava-as de acordo com sua imaginação.
Um dia, ele chegou em casa e subiu em sua cadeira, fechou os olhos e começou
a rememorar a história que havia aprendido no Chêder. Naquele
dia,havia estudado sobre Rabi Yehudá Hanassi e de como ele havia
obtido permissão para voltar a visitar sua família nas noites
de sexta-feira.
O menino se perdeu em seus pensamentos e imaginou como esta alma descia
do Céu nas noites de Shabat: o Sol se põe e a alma deste
grande Tsadic desce do Céu e se aproxima de sua casa em algum lugar
em Israel. A janela está aberta, as velas acesas, uma toalha branca
sobre a mesa, as crianças em suas melhores roupas de Shabat e a
alma adentra a sala.
Enquanto o menino estava lá sentado imaginando isto, ouviu vozes.
Abriu os olhos e viu seu pai em roupas de Shabat, com o gartel (cinto
especial) que ele usava em ocasiões sagradas. Estava em pé,
defronte à escrivaninha, olhando para a cadeira onde o avô
do menino costumava se sentar, estudar e conversar. O pai estava falando
com a cadeira e chorava. No fim do dia, o menino escreveu em seu diário
- este menino de oito anos tinha um diário - que ele achou que
não devia estar no quarto àquela hora. Por isso se levantou
e saiu em silêncio.
Enquanto o menino estava lá, relembrando a história que
aconteceu 2000 anos atrás, quando a alma de Rabi Yehuda vinha visitar
sua família nas noites de sexta-feira para vê-los celebrar
o Shabat, ele abriu os olhos e descobriu que o mesmo acontecia em sua
própria casa. Seu avô tinha vindo visitar seu pai, e este
abria seu coração, pedindo ao pai (o avô do menino)
para que conseguisse ajuda do Céu para os judeus, porque havia
pogroms e o Czar estava novamente criando problemas.
Talvez através de nossa história a presença das almas
e a relação existente com os pais que já se foram
não é para admirar e não é um milagre. Temos
isto por garantido. Uma mãe é uma mãe e ela nunca
abandona seus filhos. Nem mesmo o Céu pode fazer isso com ela.
Mesmo os avós não perdem o interesse depois de sua morte.
Ao contrário, tomam-se mais interessados e eficazes. A sua lembrança
pode fazer por nós o que suas exigências não conseguiram.
Esta é a razão por que estão bem vivos.
Em troca, o que podemos fazer por eles é muito mais, porque a tragédia
da morte para uma alma é não mais poder cumprir mitsvot.
Ela fica no Céu, aprecia a proximidade de D'us, o que é
muito agradável. Mas uma vez que a alma esteve na Terra e sentiu
a missão, o propósito e a razão de viver, ficar no
Céu sem ter o que fazer além de se sentir bem é uma
aposentadoria precoce. A alma não gosta disso. Como ela pode ganhar
mitsvot e créditos, participar do que se passa na Terra? Através
dos filhos ou de qualquer outra pessoa cuja mitsvá é motivada,
pelo menos até certo ponto, pela influência que esta alma
tem ou teve.
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