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"Eu
não sabia o que dizer", escreveu minha amiga, "portanto
não disse nada."
No dia anterior, eu tinha escrito para perguntar: Eu estava ficando paranóica
ou ela estava se afastando de mim? Eu acabara de passar pelo período
que talvez fosse o mais doloroso da minha vida (até então),
e minha amiga – uma amiga leal, carinhosa, dedicada – simplesmente
tinha desaparecido.
Durante anos, não tínhamos passado mais que uns poucos dias
sem um e-mail ou telefonema entre nós – ela sempre transbordante
de calor, bom humor e amizade. E então – puff! – ela
sumiu, oculta sob um véu de silêncio. Justo na ocasião
em que eu mais precisava do seu apoio e proximidade, ela sumiu.
"Eu sabia como você deveria estar sofrendo", escreveu
ela pedindo sinceras desculpas – "mas eu não sabia o
que fazer."
Não entendi.
Minha amiga é uma pessoa bondosa e tem consideração.
Pois não é quando alguém está sofrendo que
é mais importante demonstrar amizade?
Porém, é uma reação bastante humana fazer
o contrário; afastar-se. Não porque você não
se importa, mas porque você simplesmente não sabe o que fazer.
Ceder ao medo do "o que dizer" ou "o que fazer" com
certeza é mais confortável a curto prazo, mas, diz o Judaísmo,
é abdicar da obrigação humana de consolar quem está
sofrendo.
Até o próprio D'us consolou Yitschac pela morte do pai.
Fácil para Ele, certo? Afinal, D'us sabe o que dizer!
Mas a tradição judaica dá orientações
sobre como confortar aqueles que sofreram uma perda. Não apenas
os enlutados que perderam um ente querido, mas também o fim de
um relacionamento, a perda de um emprego, ou qualquer uma das muitas flechadas
e pedradas que fazem da vida uma experiência tão interessante…
Faça uma visita
Em primeiro lugar, faça contato.
Resista à vontade de evitar a cena dolorosa que é ver alguém
sofrendo. O senso de isolamento e solidão que acompanha qualquer
perda séria pode ser esmagador. Você é necessário.
No caso de luto, vamos à casa onde a pessoa está sentando
shivá. Ninguém gosta de fazer "visitas de shivá",
mas reconhecemos a obrigação de aliviar os enlutados da
indizível solidão que acompanha a perda que sofreram.
Com o simples ato de fazer contato com alguém que sofre, você
alivia o fardo. Combate a solidão daquela pessoa simplesmente pelo
fato de estar ali.
Dependendo das circunstâncias, você talvez queira levar seu
amigo para jantar, assistir a um filme, ou encontrá-lo para tomar
um café. Mas nem precisa tanto.
Telefone. Deixe uma mensagem dizendo: "Estou pensando em você."
Ou então envie um cartão ou e-mail, dizendo: "Saiba
que estou pensando em você e espero que esteja se sentindo melhor."
Deixe-o Falar
Obviamente, quando você planeja uma visita, entra em pânico:
"O que vou falar?"
Há um bom motivo para isso: a maioria de nós tende a dizer
algo idiota.
A tradição judaica instrui: Não fale com enlutados
até que eles falem primeiro com você. Deixe-os falar se quiserem,
ou apenas os conforte com sua presença. Deixe-os estabelecer o
tom e o ritmo da conversa. Resista à vontade de preencher o silêncio
com palavras.
Aplique a mesma regra a outros cenários desagradáveis. Afinal,
o que você diz a alguém que acaba de perder o emprego? Ou
que está passando por um divórcio? Ou lutando contra uma
doença?
A maioria de nós não é composta de rabinos ou psicólogos
que podem oferecer as palavras certas aos amigos que sofrem. Mas pode-se
oferecer um ouvido, um ombro, ou dar um abraço. E isso geralmente
basta.
Uma palavrinha aos inteligentes: não force alguém a se abrir
com você. É maravilhoso dizer: "Se você quiser
conversar, estou aqui." Porém não ajuda muito dizer:
"Você teve um aborto? Venha, vamos falar a respeito, você
se sentirá melhor."
Todo mundo deseja e precisa de coisas diferentes para consolo. Uma pessoa
pode querer que você a ouça chorar. Outra pode querer que
você a anime. Deve-se usar a sensibilidade e o bom senso em uma
hora tão delicada.
Ofereça aquilo que as pessoas desejam
Aquilo que você precisa numa situação dessas pode
ser totalmente diferente daquilo que o outro precisa. Tenha humildade
para entender que aquilo que você acha que eles precisam, talvez
não seja realmente o que precisam.
A conversa séria, o discurso encorajador que parece fazer tanto
sentido para você pode ser devastador para alguém muito frágil.
Tente perguntar o que ele precisa de você: "Como posso ajudá-lo?"
ou então: "O que posso fazer para dar apoio?" "O
que você gostaria que eu fizesse?" Talvez seja sair para pagar
uma conta, ajudar com alguns arranjos, ou dar uma mão nas tarefas
domésticas.
Respeite os estágios do luto
Reconheça que a única coisa que pode ajudar seu amigo é
o tempo.
Isso é aplicado no judaísmo através dos diferentes
períodos de luto pelas quais um enlutado passa, até o término
de um ano (para os pais). À medida que o tempo passa, as restrições
do luto relaxam e os enlutados aos poucos retornam ~a vida social.
Passar por qualquer processo de sofrimento envolve inevitáveis
altos e baixos. Seu amigo pode estar bem num dia e totalmente deprimido
no outro, calmo uma hora e desesperado na hora seguinte.
Conheça a perspectiva
Tente ser paciente, até mesmo enquanto está pensando: "Durante
quanto tempo ele vai ficar assim?" ou "Quantas vezes vou escutar
a mesma coisa?" É fácil calcular o sofrimento de alguém
quando você tem a perspectiva que falta a ele. Você não
está passando por aquilo.
Ao mesmo tempo, a tradição judaica adverte contra o luto
excessivo. Se alguém não consegue passar esta fase de sofrimento,
talvez precise de ajuda. Se você acha que seu amigo está
nesse caso, fale com um conselheiro ou rabino para ajudá-lo a avaliar
a situação.
Você pode sugerir delicadamente que talvez seja bom seu amigo conversar
com alguém treinado para lidar com o sofrimento, para ajudá-lo
a se sentir melhor e adquirir outra perspectiva sobre a situação.
Você tem o tempo
Mais ou menos na metade do meu caminho rumo ao equilíbrio, falei
sobre as maneiras que as pessoas reagiram com outro amigo que passara
por uma experiência semelhante.
Eu sabia que eu tinha desenvolvido uma lealdade para toda a vida com três
ou quatro amigas que tinham sido bondosas, pacientes e carinhosas enquanto
eu tentava achar meu caminho de volta à normalidade.
O que elas fizeram? Não muito. Me telefonaram e me convidaram para
sair. Uma delas comprou-me um chapéu engraçado num dia em
que eu me sentia especialmente deprimida. Basicamente, fizeram um esforço
tendo em mente que eu estava passando por algo e quiseram que eu soubesse
que estava na mente delas. Minha amiga contou-me tristemente que seus
sentimentos tinham mudado em relação aos amigos que não
tinham se incomodado de contactá-la.
Pensando em minha amiga bem intencionada mas desnorteada, lembrei a ela
que as pessoas têm suas próprias vidas e talvez fiquem tão
envolvidas no seu dia-a-dia que podem ter se esquecido de ligar, ou não
sabiam o que dizer. Não é que não tenham carinho
por ela.
"Você tem razão", disse ela tristemente. "Mas
não estou pedindo que me dediquem muito tempo, ou que carreguem
sozinhos o meu fardo. Estou pedindo um telefonema de três minutos.
Ou um e-mail que leva três segundos para escrever e enviar."
A Torá nos diz "não oprima o estrangeiro, pois vocês
foram estranhos no Egito." É fácil repousar sobre os
louros da auto-satisfação. O supremo desafio é domar
nosso sofrimento e aprender com ele.
Quando esta amiga e eu tivermos passado pelos desafios e voltarmos "ao
normal", nos lembraremos da incrível maravilha que foram aqueles
telefonemas e e-mails? Quando outra pessoa está sofrendo, saberemos
ter mais paciência? Saberemos escutar?
Pois são justamente estes pequenos atos que fazem com que uma pessoa
se sinta lembrada e querida e faz com que a gente possa passar pelo próprio
sofrimento tirando lições dele para a nossa vida.
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