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  Confortando os que sofrem  
  Por Stefanie Pearson
 

"Eu não sabia o que dizer", escreveu minha amiga, "portanto não disse nada."

No dia anterior, eu tinha escrito para perguntar: Eu estava ficando paranóica ou ela estava se afastando de mim? Eu acabara de passar pelo período que talvez fosse o mais doloroso da minha vida (até então), e minha amiga – uma amiga leal, carinhosa, dedicada – simplesmente tinha desaparecido.

Durante anos, não tínhamos passado mais que uns poucos dias sem um e-mail ou telefonema entre nós – ela sempre transbordante de calor, bom humor e amizade. E então – puff! – ela sumiu, oculta sob um véu de silêncio. Justo na ocasião em que eu mais precisava do seu apoio e proximidade, ela sumiu.

"Eu sabia como você deveria estar sofrendo", escreveu ela pedindo sinceras desculpas – "mas eu não sabia o que fazer."

Não entendi.

Minha amiga é uma pessoa bondosa e tem consideração. Pois não é quando alguém está sofrendo que é mais importante demonstrar amizade?

Porém, é uma reação bastante humana fazer o contrário; afastar-se. Não porque você não se importa, mas porque você simplesmente não sabe o que fazer.

Ceder ao medo do "o que dizer" ou "o que fazer" com certeza é mais confortável a curto prazo, mas, diz o Judaísmo, é abdicar da obrigação humana de consolar quem está sofrendo.

Até o próprio D'us consolou Yitschac pela morte do pai. Fácil para Ele, certo? Afinal, D'us sabe o que dizer!

Mas a tradição judaica dá orientações sobre como confortar aqueles que sofreram uma perda. Não apenas os enlutados que perderam um ente querido, mas também o fim de um relacionamento, a perda de um emprego, ou qualquer uma das muitas flechadas e pedradas que fazem da vida uma experiência tão interessante…

Faça uma visita

Em primeiro lugar, faça contato.

Resista à vontade de evitar a cena dolorosa que é ver alguém sofrendo. O senso de isolamento e solidão que acompanha qualquer perda séria pode ser esmagador. Você é necessário.

No caso de luto, vamos à casa onde a pessoa está sentando shivá. Ninguém gosta de fazer "visitas de shivá", mas reconhecemos a obrigação de aliviar os enlutados da indizível solidão que acompanha a perda que sofreram.

Com o simples ato de fazer contato com alguém que sofre, você alivia o fardo. Combate a solidão daquela pessoa simplesmente pelo fato de estar ali.

Dependendo das circunstâncias, você talvez queira levar seu amigo para jantar, assistir a um filme, ou encontrá-lo para tomar um café. Mas nem precisa tanto.

Telefone. Deixe uma mensagem dizendo: "Estou pensando em você." Ou então envie um cartão ou e-mail, dizendo: "Saiba que estou pensando em você e espero que esteja se sentindo melhor."

Deixe-o Falar


Obviamente, quando você planeja uma visita, entra em pânico: "O que vou falar?"

Há um bom motivo para isso: a maioria de nós tende a dizer algo idiota.

A tradição judaica instrui: Não fale com enlutados até que eles falem primeiro com você. Deixe-os falar se quiserem, ou apenas os conforte com sua presença. Deixe-os estabelecer o tom e o ritmo da conversa. Resista à vontade de preencher o silêncio com palavras.

Aplique a mesma regra a outros cenários desagradáveis. Afinal, o que você diz a alguém que acaba de perder o emprego? Ou que está passando por um divórcio? Ou lutando contra uma doença?

A maioria de nós não é composta de rabinos ou psicólogos que podem oferecer as palavras certas aos amigos que sofrem. Mas pode-se oferecer um ouvido, um ombro, ou dar um abraço. E isso geralmente basta.

Uma palavrinha aos inteligentes: não force alguém a se abrir com você. É maravilhoso dizer: "Se você quiser conversar, estou aqui." Porém não ajuda muito dizer: "Você teve um aborto? Venha, vamos falar a respeito, você se sentirá melhor."

Todo mundo deseja e precisa de coisas diferentes para consolo. Uma pessoa pode querer que você a ouça chorar. Outra pode querer que você a anime. Deve-se usar a sensibilidade e o bom senso em uma hora tão delicada.

Ofereça aquilo que as pessoas desejam

Aquilo que você precisa numa situação dessas pode ser totalmente diferente daquilo que o outro precisa. Tenha humildade para entender que aquilo que você acha que eles precisam, talvez não seja realmente o que precisam.

A conversa séria, o discurso encorajador que parece fazer tanto sentido para você pode ser devastador para alguém muito frágil.

Tente perguntar o que ele precisa de você: "Como posso ajudá-lo?" ou então: "O que posso fazer para dar apoio?" "O que você gostaria que eu fizesse?" Talvez seja sair para pagar uma conta, ajudar com alguns arranjos, ou dar uma mão nas tarefas domésticas.

Respeite os estágios do luto

Reconheça que a única coisa que pode ajudar seu amigo é o tempo.

Isso é aplicado no judaísmo através dos diferentes períodos de luto pelas quais um enlutado passa, até o término de um ano (para os pais). À medida que o tempo passa, as restrições do luto relaxam e os enlutados aos poucos retornam ~a vida social.

Passar por qualquer processo de sofrimento envolve inevitáveis altos e baixos. Seu amigo pode estar bem num dia e totalmente deprimido no outro, calmo uma hora e desesperado na hora seguinte.

Conheça a perspectiva

Tente ser paciente, até mesmo enquanto está pensando: "Durante quanto tempo ele vai ficar assim?" ou "Quantas vezes vou escutar a mesma coisa?" É fácil calcular o sofrimento de alguém quando você tem a perspectiva que falta a ele. Você não está passando por aquilo.

Ao mesmo tempo, a tradição judaica adverte contra o luto excessivo. Se alguém não consegue passar esta fase de sofrimento, talvez precise de ajuda. Se você acha que seu amigo está nesse caso, fale com um conselheiro ou rabino para ajudá-lo a avaliar a situação.

Você pode sugerir delicadamente que talvez seja bom seu amigo conversar com alguém treinado para lidar com o sofrimento, para ajudá-lo a se sentir melhor e adquirir outra perspectiva sobre a situação.

Você tem o tempo

Mais ou menos na metade do meu caminho rumo ao equilíbrio, falei sobre as maneiras que as pessoas reagiram com outro amigo que passara por uma experiência semelhante.

Eu sabia que eu tinha desenvolvido uma lealdade para toda a vida com três ou quatro amigas que tinham sido bondosas, pacientes e carinhosas enquanto eu tentava achar meu caminho de volta à normalidade.

O que elas fizeram? Não muito. Me telefonaram e me convidaram para sair. Uma delas comprou-me um chapéu engraçado num dia em que eu me sentia especialmente deprimida. Basicamente, fizeram um esforço tendo em mente que eu estava passando por algo e quiseram que eu soubesse que estava na mente delas. Minha amiga contou-me tristemente que seus sentimentos tinham mudado em relação aos amigos que não tinham se incomodado de contactá-la.

Pensando em minha amiga bem intencionada mas desnorteada, lembrei a ela que as pessoas têm suas próprias vidas e talvez fiquem tão envolvidas no seu dia-a-dia que podem ter se esquecido de ligar, ou não sabiam o que dizer. Não é que não tenham carinho por ela.

"Você tem razão", disse ela tristemente. "Mas não estou pedindo que me dediquem muito tempo, ou que carreguem sozinhos o meu fardo. Estou pedindo um telefonema de três minutos. Ou um e-mail que leva três segundos para escrever e enviar."

A Torá nos diz "não oprima o estrangeiro, pois vocês foram estranhos no Egito." É fácil repousar sobre os louros da auto-satisfação. O supremo desafio é domar nosso sofrimento e aprender com ele.

Quando esta amiga e eu tivermos passado pelos desafios e voltarmos "ao normal", nos lembraremos da incrível maravilha que foram aqueles telefonemas e e-mails? Quando outra pessoa está sofrendo, saberemos ter mais paciência? Saberemos escutar?

Pois são justamente estes pequenos atos que fazem com que uma pessoa se sinta lembrada e querida e faz com que a gente possa passar pelo próprio sofrimento tirando lições dele para a nossa vida.

       
 
       
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