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Um
funeral judaico é uma cerimônia de calma dignidade; uma mortalha
branca é usada tanto pelos ricos como pelos pobres, um caixão
simples de madeira, um enterro rápido sem ostentação
são alguns dos costumes simples que predominam.
A morte é a crise da vida. A maneira de um homem lidar com a morte
indica muito sobre sua atitude para com a vida. Assim como há um
estilo judaico de vida, também existe um estilo judaico de morte.
Da mesma forma que a maneira judaica jde viver é uma perspectiva
distinta e um estilo de vida singular específicas de D'us, assim
também a maneira judaica de morrer implica atitudes singulares
em relação a D'us e a natureza, e relativamente ao problema
do bem e do mal. Há também uma maneira distintiva de demonstrar
as qualidades específicas judaicas de reverência pelo homem
e respeito pelos mortos.
Por exemplo, a proibição tanto da cremação
(a eliminação rápida e não natural do corpo)
e o embalsamamento (a preservação não natural do
corpo), mostram uma filosofia do homem e seu relacionamento com D'us e
com a natureza.
– A repugnância pela mutilação de um corpo expressa
reverência pelo homem, porque este foi criado à imagem de
D'us.
– O banimento da necromância está baseado em conceitos
teológicos muito exatos de criatura e Criador.
– O mandamento de enterrar os mortos sem delongas traça uma
linha muito fina porém clara entre a reverência pelos mortos
e veneração pelos mortos.
O profundo discernimento psicológico implícito nas altamente
estruturadas observâncias judaicas do luto falam com eloqüência
sobre a preocupação do Judaísmo pela integridade
psicológica da personalidade humana.
Preparação do corpo
"Assim como veio, ele deve ir," diz Cohêlet.
Assim como um recém-nascido é imediatamente lavado e entra
neste mundo limpo e puro, também aquele que parte deste mundo deve
ser limpo e purificado através do ritual religioso chamado taharat,
purificação.
O taharat é realizado pela Chevra Kadisha (Sociedade Sagrada, i.e.,
Sociedade Funerária), consistindo de judeus instruídos na
área de deveres tradicionais, que podem mostrar o respeito adequado
pelo falecido.
Além da limpeza física e preparação do corpo
para o enterro, eles também recitam as preces apropriadas exigidas,
pedindo perdão a D'us pelos pecados que o falecido possa ter cometido,
e rezam para que D'us o guarde e lhe conceda a paz eterna.
A tradição judaica reconhece a democracia da morte. Exige,
portanto, que todos os judeus sejam enterrados no mesmo tipo de veste
– uma mortalha branca simples. Ricos ou pobres, todos são
iguais perante D'us, e aquilo que determina sua recompensa não
é a roupa que vestem, mas aquilo que são. Há quase
2.000 anos, Rabi Gamaliel instituiu essa prática para que os pobres
não ficassem envergonhados e os ricos não exibissem o custo
de suas roupas do funeral.
As roupas a serem vestidas devem ser apropriadas para alguém que
está perto de ficar em julgamento perante D'us Todo Poderoso, Mestre
do universo e Criador do homem. Portanto, elas devem ser simples, feitas
à mão, perfeitamente limpas e brancas. Estas mortalhas simbolizam
pureza, simplicidade e dignidade.
A Torá, em sua sabedoria, exigiu que o enterro ocorresse o mais
rápido possível depois da morte.
O conceito religioso incluído nesta lei é que o homem, feito
à imagem de D'us, deve receber o mais profundo respeito. É
considerada uma questão de grande constrangimento e descortesia
deixar o falecido sem enterrar – sua alma retornou a D'us, mas seu
corpo é deixado na terra dos vivos.
A Lei Judaica é inequívoca ao estabelecer de maneira absoluta
que os mortos devem ser enterrados na terra. O corpo do homem retorna
ao pó como era. A alma sobe a D'us mas o abrigo físico,
os elementos químicos que revestiam a alma, mergulham no vasto
reservatório da natureza.
"Pois do pó vieste, e ao pó retornarás"
(Bereshit 3:19) é o princípio guia no que tange à
escolha dos caixões, que deve ser completamente feito de madeira.
A Torá nos diz que Adam e Eva se esconderam entre as árvores
no Jardim do Éden quando escutaram o Divino julgamento por terem
cometido o primeiro pecado. Disse Rabi Levi: "Este foi um sinal para
seus descendentes de que, quando morrerem e estiverem preparados para
receber sua recompensa, devem ser colocados em caixões de madeira."
Costumes não-judaicos
A cremação jamais é permitida. O falecido deve ser
enterrado, corporalmente, na terra. É proibido – em toda
e qualquer circunstância – reduzir o morto a cinzas num crematório.
É um ato ofensivo, pois violenta o espírito e a letra da
lei Judaica, que nunca, no passado, sancionou a antiga prática
pagã de cremar o corpo.
A abominação judaica da cremação já
foi registrada por Tácito, o historiador romano do Primeiro Século
EC, que fez uma declaração sobre aquilo que parecia uma
característica distintiva dos judeus enterrarem, e não cremarem,
os seus mortos.
Nos dias antigos, o Talmud nos informa, flores e especiarias perfumadas
eram usadas no funeral para disfarçar o odor do corpo em decomposição.
Hoje, isso não é mais essencial e não devem de maneira
alguma ser usados em funerais judaicos.
É muito melhor homenagear o falecido fazendo uma contribuição
a uma sinagoga ou hospital, ou a uma associação de pesquisa
médica para a doença que afligiu o falecido. Este método
de tributo é mais duradouro e significativo.
Atualmente, as flores são usadas basicamente em funerais cristãos;
este é considerado em ritual não-judaico e deve ser desencorajado.
Outro costume que definitivamente é estranho e proibido ao Judaísmo
é a exposição dos restos mortais, claramente uma
prática religiosa cristã.
No Judaísmo, o local para oferecer condolências é
em casa, durante os sete dias especiais de luto chamados shivá.
O Serviço do Funeral
A expressão judaica mais notável de dor é quando
o enlutado rasga as próprias roupas antes do funeral.
Quem deve rasgar as roupas?
Sete parentes estão obrigados a desempenhar esta prática:
filho, filha, pai, mãe, irmão, irmã e cônjuge.
Eles devem ser adultos acima da idade de treze anos. Menores, que sejam
realmente capazes de entender a situação e avaliar a perda,
podem ter as roupas rasgadas por outros parentes ou amigos.
Cônjuges divorciados podem cortar as roupas, mas não são
obrigados.
O serviço de funeral é breve e simples, designado basicamente
para homenagear a dignidade do falecido. O serviço consiste em:
– Ler uma seleção de Tehilim (Salmos) apropriada à
vida do falecido.
– Fazer uma eulogia de suas boas qualidades que os sobreviventes
procurarão implantar em sua própria vida.
– Uma prece memorial pedindo a D'us que abrigue sua alma "nas
asas da Divina Presença".
Leis durante e após o Sepultamento
As pessoas que estão colocando terra na sepultura devem tomar cuidado
para não passar a pá ou a enxada de mão em mão,
mas sim, fincá-la na terra.
• Aqueles que estiverem presentes ao enterro devem formar duas filas,
como um corredor, por onde os enlutados deverão passar. Aqueles
que formarem o corredor devem recitar a tradicional prece de consolação:
"Hamacom yenachem etchem betoch shear avelê Tsiyon
Virushaláyim" "Que D’us te conforte entre
os outros enlutados de Sion e Jerusalém."
• É uma mitsvá acompanhar o falecido até o
cemitério.
• Se for incapaz de ir até o cemitério, a pessoa deve
caminhar pelo menos uma distância de 2 ou 3 metros acompanhando
o corpo.
• É importante que um grupo de no mínimo de dez homens
adultos (a partir de 13 anos) esteja presente no cemitério, para
que haja um minyan para o cadish.
• É uma grande mitsvá fazer um discurso apropriado
ao falecido, mencionando seus bons traços de caráter (que
seja sincero e contenha verdades, caso contrário torna-se prejudicial
ao orador e ao falecido). O objetivo primordial do panegírico é
honrar o falecido. Falamos também sobre seus pais e família,
Se o falecido deixou instruções de que preferia não
ser louvado, sua vontade deve ser feita.
• É uma mitsvá chorar e prantear pelo falecimento
de uma pessoa justa. D’us conta e entesoura as lágrimas derramadas
quando um justo se vai.
• A presença de um corpo morto é considerada uma fonte
de impureza ritual. Por este motivo, um cohen não pode permanecer
na presença de um cadáver, fazer visitas ou ir a enterro
no cemitério, a menos que seja o enterro pelos seus pais. Um
cohen deve ser cercado por um círculo de pessoas de mãos
dadas ou um material como uma cerca a sua volta para poder visitar algum
túmulo ou permanecer no cemitério.
• No cemitério, o cohen falecido é enterrado próximo
aos portões do cemitério, para que seus parentes não
se profanem caminhando perto de outros túmulos.
• É importante que homens e mulheres não se misturem
durante os panegíricos ou a procissão fúnebre.
• É proibido retardar um sepultamento, pois é prejudicial
ao falecido, podendo causar sofrimento a sua alma. Somente em situações
realmente necessárias é permitido um breve adiamento caso
estejam ainda preparando os detalhes da sepultura ou para que parentes
próximos que se encontram em outras localidades possam comparecer
ao funeral. (Não realizamos o sepultamento no final da tarde de
sexta-feira se isso puder causar a profanação do Shabat.)
• É necessário consultar um rabino ortodoxo competente
antes de retardar um funeral.
• Para os pais, é adequado expandir os elogios em sua honra.
• O correto é que apenas judeus estejam envolvidos nos cuidados
e no transporte do corpo.
• A pessoa é obrigada a interromper até o estudo de
Torá a fim de acompanhar o falecido.
• Costuma-se recitar capítulos especiais doTehilim
durante o funeral.
• Utiliza-se um caixão de madeira, mas é preferível
minimizar a madeira e mesmo as mortalhas, para que o falecido fique o
mais próximo possível do solo.
• O falecido é deitado de costas, como alguém que
está dormindo.
• Pedimos perdão ao falecido, no caso de não termos
mostrado o respeito adequado.
• Costuma-se não passar as pás de uma pessoa a outra,
para demonstrar que não passamos tristeza a outras pessoas; pousa-se
a pá e esta então é apanhada do chão.
• Não se pode agir de maneira descuidada no cemitério,
o que inclui: não comer, não beber, não fumar [Yalkut
Yossef], não tratar de assuntos de negócios.
• É proibido usar passagens entre os túmulos como
atalho.
• De forma geral, é proibido abrir um túmulo depois
de este ter sido fechado.
• É costume após o enterro, ao sair do cemitério,
arrancar um pouco de grama, para demonstrar que o falecido brotará
de novo à vida quando da ressurreição dos mortos
(Techiyas Hametim ) e jogá-la por cima do ombro direito para trás
e recitar o seguinte: "Veyatsisu me'ir keêssev haáretz;
zachur ki afar anáchnu" (Tradução:
“Que eles (os falecidos) brotem (ressuscitem) como
as plantas da terra”.
Obs: Se o sepultamento ocorrer em Chol Hamoed, não se pode arrancar
a grama.
Ao sair do cemitério cada pessoa deverá fazer netilat yadáyim
(ablução das mãos). O costume é
de não enxugar as mãos após a netilá,
porém nos dias frios pode-se enxugá-las. Não se costuma
passar a caneca de netilat para outra pessoa após usá-la
para mostrar que não passamos tristeza a outras pessoas. A caneca
deverá ser colocada com a abertura para baixo, indicando que toda
vida chegará ao fim.
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