Cumprimentos e Presentes

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  Por Maurice Lamm
 

Com a chocante ruptura da vida normal causada por uma morte em família, as formas padrão de relacionamento social, suas amenidades e minúcias de etiqueta perdem a importância. O coração enlutado não tem paciência para essas formalidades. A tradição, portanto, dispensa todos os tipos de cumprimentos durante a shivá.

Os Sábios, que insistem em que a pessoa cumprimente todos com cortesia, consideram os cumprimentos inoportunos quando se fala com um enlutado. É absurdo dizer a um homem mergulhado na dor por causa de um ente querido, "Alô, como vai?" Esta não somente é uma pergunta que não pode ser respondida, como indica falta de compaixão e sensibilidade. Os shalom aleichems e os alôs são vazios e sem propósito, até ofensivos, ao coração em desespero. Certamente, como ensinou Maimônides, o Sábio do Século Doze, devemos desencorajar a conversa fútil e a leviandade de alguns visitantes sem tato. A rejeição dos cumprimentos numa hora dessas, longe de demonstrar falta de cordialidade, brota de uma profunda percepção da natureza humana e compaixão pelo seu sofrimento. Esta lei, como tantas outras leis do luto, se originou com Yechezkel. D'us diz a ele (24:17): "suspira em silêncio." De fato, como pode alguém prantear mais eloqüentemente do que "suspirando em silêncio"?

Os Sábios oferecem uma segunda razão para evitar o cumprimento padrão de "shalom". Shalom é um dos nomes de D'us, e saudar em nome de D'us numa ocasião em que D'us levou um parente próximo poderia parecer, no espírito do enlutado, uma intimação a zombar e um convite a questionar a justiça Divina, numa hora em que ele é requisitado e proclamar a justiça de D'us, como na prece “tzidduk ha'din”.

Tradicionalmente, portanto, os judeus não cumprimentam o enlutado, O visitante entra pela porta, geralmente deixada aberta para evitar o primeiro encontro e os cumprimentos, e senta-se, sem alarde, para compartilhar a dor do seu vizinho.

1 – Durante a shivá, o enlutado não deve estender cumprimentos aos outros e os outros, naturalmente, não devem desejar-lhe shalom.

2 – Quando os cumprimentos são estendidos por visitantes mal informados, o enlutado, durante os primeiros três dias, não pode responder. Ele deveria indicar, gentilmente, que está enlutado e não tem permissão de fazê-lo. Após os três dias ele pode responder por cortesia, mas deve fazê-lo em voz baixa, para indicar respeito tanto à pessoa como à tradição.

3 – Após a shivá ele pode iniciar os cumprimentos e responder a eles. Costumeiramente, porém, o enlutado não é cumprimentado com shalom durante o ano inteiro de luto no caso da morte de um dos pais, e por 30 dias após o falecimento de outros parentes.

4 – Se há um grande número de pessoas visitando como um grupo, como por exemplo, representantes de uma organização, ele pode cumprimentá-los. Respeito especial deve ser conferido a um grande número de pessoas.

5 – No Shabat, o enlutado pode desejar Shabat Shalom a outras pessoas, e elas podem responder. Quanto aos outros iniciarem os cumprimentos, há opiniões conflitantes, e o enlutado deve seguir a prática de sua comunidade.

6 – Os visitantes podem cumprimentar-se uns aos outros numa casa enlutada? É considerado de mau gosto até mesmo usar a palavra Shalom na casa em luto, especialmente porque a pessoa deve então diferenciar entre o cumprimento falado ao enlutado e aquele oferecido aos visitantes.

7 – Outras formas de saudação ao enlutado (não usando a palavra shalom), como "boa noite", etc., também devem ser evitadas. Apenas sentar ao lado do enlutado já é suficiente. Se alguém deseja abordar diretamente o enlutado, a menção de seu nome, apenas, indica tanto cortesia como compaixão pelo seu luto. Os visitantes podem cumprimentar um ao outro sem utilizar a palavra shalom.

8 – A maneira correta de se despedir é usar a frase hebraica: “Ha'makom yebachem (otecha para homem, otach para mulher, etchem para muitos enlutados, etchen para mais de um enlutado do sexo feminino), b'toch she'ar avelai Tziyon vi'yerushalayim”. A pessoa pode também usar a tradução:

"Que D'us te conforte entre os outros enlutados de Tsion e Jerusalém."

Na verdade é, afinal, somente D'us que pode dar o único conforto válido e duradouro neste momento de angústia. D'us, nesta frase, é mencionado como “Ha'makom”. que normalmente significa "O Lugar". Isso implica que D'us onipresente, que está em toda parte o tempo todo, estava presente ao nascimento e agora está presente na casa enlutada – mostra a dor sofrida pelos enlutados. Ele é o D'us que te concederá consolo.

9 – Os visitantes podem desejar o bem ao enlutado: ele pode ser abençoado com boa saúde e força, que no futuro seja resguardado contra grande sofrimento, que lhe seja concedida longa vida, ou outras bênçãos apropriadas. Seguindo a mesma linha, o enlutado pode estender estes bons votos, ou até mazal tov para alguma ocasião feliz, àqueles que o visitam. É psicológica e espiritualmente valioso para o enlutado demonstrar preocupação pelos outros – pela sua provação ou pela sua boa sorte, embora ele próprio esteja passando pelo desespero em seu momento difícil.

10 – Levar presentes ou coisas materiais ao enlutado não apenas é de mau gosto, como uma violação do costume tradicional. Evitar o envio de presentes está na mesma categoria de evitar cumprimentos. Isso expressa apenas as alegrias superficiais da amizade num período de profunda desorientação pessoal. Tradicionalmente, a refeição de condolências é o presente adequado de consolo.

Embora, obviamente, todos os visitantes não possam proporcionar esse presente, uma doação à caridade em honra ao falecido é o procedimento correto. Visitantes que tenham consideração devem seguir este procedimento.

 

 

 
   
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