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Com
a chocante ruptura da vida normal causada por uma morte em família,
as formas padrão de relacionamento social, suas amenidades e minúcias
de etiqueta perdem a importância. O coração enlutado
não tem paciência para essas formalidades. A tradição,
portanto, dispensa todos os tipos de cumprimentos durante a shivá.
Os Sábios, que insistem em que a pessoa cumprimente todos com cortesia,
consideram os cumprimentos inoportunos quando se fala com um enlutado.
É absurdo dizer a um homem mergulhado na dor por causa de um ente
querido, "Alô, como vai?" Esta não somente é
uma pergunta que não pode ser respondida, como indica falta de
compaixão e sensibilidade. Os shalom aleichems e os alôs
são vazios e sem propósito, até ofensivos, ao coração
em desespero. Certamente, como ensinou Maimônides, o Sábio
do Século Doze, devemos desencorajar a conversa fútil e
a leviandade de alguns visitantes sem tato. A rejeição dos
cumprimentos numa hora dessas, longe de demonstrar falta de cordialidade,
brota de uma profunda percepção da natureza humana e compaixão
pelo seu sofrimento. Esta lei, como tantas outras leis do luto, se originou
com Yechezkel. D'us diz a ele (24:17): "suspira em silêncio."
De fato, como pode alguém prantear mais eloqüentemente do
que "suspirando em silêncio"?
Os Sábios oferecem uma segunda razão para evitar o cumprimento
padrão de "shalom". Shalom é um dos nomes de D'us,
e saudar em nome de D'us numa ocasião em que D'us levou um parente
próximo poderia parecer, no espírito do enlutado, uma intimação
a zombar e um convite a questionar a justiça Divina, numa hora
em que ele é requisitado e proclamar a justiça de D'us,
como na prece “tzidduk ha'din”.
Tradicionalmente, portanto, os judeus não cumprimentam o enlutado,
O visitante entra pela porta, geralmente deixada aberta para evitar o
primeiro encontro e os cumprimentos, e senta-se, sem alarde, para compartilhar
a dor do seu vizinho.
1 – Durante a shivá, o enlutado não deve estender
cumprimentos aos outros e os outros, naturalmente, não devem desejar-lhe
shalom.
2 – Quando os cumprimentos são estendidos por visitantes
mal informados, o enlutado, durante os primeiros três dias, não
pode responder. Ele deveria indicar, gentilmente, que está enlutado
e não tem permissão de fazê-lo. Após os três
dias ele pode responder por cortesia, mas deve fazê-lo em voz baixa,
para indicar respeito tanto à pessoa como à tradição.
3 – Após a shivá ele pode iniciar os cumprimentos
e responder a eles. Costumeiramente, porém, o enlutado não
é cumprimentado com shalom durante o ano inteiro de luto no caso
da morte de um dos pais, e por 30 dias após o falecimento de outros
parentes.
4 – Se há um grande número de pessoas visitando como
um grupo, como por exemplo, representantes de uma organização,
ele pode cumprimentá-los. Respeito especial deve ser conferido
a um grande número de pessoas.
5 – No Shabat, o enlutado pode desejar Shabat Shalom a outras pessoas,
e elas podem responder. Quanto aos outros iniciarem os cumprimentos, há
opiniões conflitantes, e o enlutado deve seguir a prática
de sua comunidade.
6 – Os visitantes podem cumprimentar-se uns aos outros numa casa
enlutada? É considerado de mau gosto até mesmo usar a palavra
Shalom na casa em luto, especialmente porque a pessoa deve então
diferenciar entre o cumprimento falado ao enlutado e aquele oferecido
aos visitantes.
7 – Outras formas de saudação ao enlutado (não
usando a palavra shalom), como "boa noite", etc., também
devem ser evitadas. Apenas sentar ao lado do enlutado já é
suficiente. Se alguém deseja abordar diretamente o enlutado, a
menção de seu nome, apenas, indica tanto cortesia como compaixão
pelo seu luto. Os visitantes podem cumprimentar um ao outro sem utilizar
a palavra shalom.
8 – A maneira correta de se despedir é usar a frase hebraica:
“Ha'makom yebachem (otecha para homem, otach para mulher, etchem
para muitos enlutados, etchen para mais de um enlutado do sexo feminino),
b'toch she'ar avelai Tziyon vi'yerushalayim”. A pessoa pode também
usar a tradução:
"Que D'us te conforte entre os outros enlutados de Tsion e Jerusalém."
Na verdade é, afinal, somente D'us que pode dar o único
conforto válido e duradouro neste momento de angústia. D'us,
nesta frase, é mencionado como “Ha'makom”. que normalmente
significa "O Lugar". Isso implica que D'us onipresente, que
está em toda parte o tempo todo, estava presente ao nascimento
e agora está presente na casa enlutada – mostra a dor sofrida
pelos enlutados. Ele é o D'us que te concederá consolo.
9 – Os visitantes podem desejar o bem ao enlutado: ele pode ser
abençoado com boa saúde e força, que no futuro seja
resguardado contra grande sofrimento, que lhe seja concedida longa vida,
ou outras bênçãos apropriadas. Seguindo a mesma linha,
o enlutado pode estender estes bons votos, ou até mazal tov para
alguma ocasião feliz, àqueles que o visitam. É psicológica
e espiritualmente valioso para o enlutado demonstrar preocupação
pelos outros – pela sua provação ou pela sua boa sorte,
embora ele próprio esteja passando pelo desespero em seu momento
difícil.
10 – Levar presentes ou coisas materiais ao enlutado não
apenas é de mau gosto, como uma violação do costume
tradicional. Evitar o envio de presentes está na mesma categoria
de evitar cumprimentos. Isso expressa apenas as alegrias superficiais
da amizade num período de profunda desorientação
pessoal. Tradicionalmente, a refeição de condolências
é o presente adequado de consolo.
Embora, obviamente, todos os visitantes não possam proporcionar
esse presente, uma doação à caridade em honra ao
falecido é o procedimento correto. Visitantes que tenham consideração
devem seguir este procedimento.
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