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É
cedo e faz frio quando subo no ônibus escolar preto. Sim, ônibus
escolares com crianças barulhentas costumam ser amarelo-limão
mas um ônibus escolar levando um caixão fica instantaneamente
negro.
Yossi, Yefim e eu nos sentamos a um lado, duas mulheres idosas do outro.
A mulher mais baixa toca repetidamente os olhos com um lenço molhado.
Creio que é o marido dela que está deitado no chão,
no caixão colocado entre nós. E não, não estamos
indo para a escola. Felizmente é um ônibus escolar e não
um rabecão. Assim, não parece que estamos viajando com um
homem morto; parece que ele está pegando carona conosco.
Muitos russos cremam seus mortos porque é mais simples e mais barato.
Porém para o judeu, a cremação é a coisa mais
triste que há, não há nada que você possa fazer.
A eternidade já aconteceu.
Rabi Moskowitz: "Na antiga União Soviética é
difícil viver como judeu e mais difícil ainda morrer como
judeu." Atualmente, um enterro tradicional é quase motivo
para celebração.
A família de Baruch Israel Naya não pode se dar ao luxo
de enterrá-lo à maneira judaica. Rabi Moskowitz faz uma
grande gentileza a Baruch. Noto que uma vez por semana Baruch aparece
com um nome e rosto diferente, e Rabi Moskowitz faz o mesmo favor todas
as vezes.
Naquela manhã de inverno é a primeira vez que sou chamado
para ajudar, e lembro-me de estar sentado no ônibus tentando me
concentrar no que precisa ser feito, não naquilo que estou fazendo.
A neve fresca cobre a maioria dos túmulos, pensando que sou jovem
demais para saber. Yossi e Yefim carregam o caixão de madeira até
uma área cercada pequena, marcada por uma Estrela de David. Lá,
Rabino Moskowitz e umas poucas pessoas esperam em silêncio na frente
da sepultura aberta.
Do outro lado da cova quatro russos vestidos como trabalhadores de construção
me olham de cima abaixo. Tento não olhar de volta. Coveiros não
têm família ou amigos, e não os confunda com um de
nós.
Rabi Moskowitz recita uma prece a respeito de estar atado no vínculo
da vida. O Cadish é recitado pela primeira vez. O lenço
ainda está molhado, e eu me transformei em coveiro. E a morte se
transformou em vida eterna.
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