Baruch Israel Naya

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  Por Shemuel Marcus
 

É cedo e faz frio quando subo no ônibus escolar preto. Sim, ônibus escolares com crianças barulhentas costumam ser amarelo-limão mas um ônibus escolar levando um caixão fica instantaneamente negro.

Yossi, Yefim e eu nos sentamos a um lado, duas mulheres idosas do outro. A mulher mais baixa toca repetidamente os olhos com um lenço molhado. Creio que é o marido dela que está deitado no chão, no caixão colocado entre nós. E não, não estamos indo para a escola. Felizmente é um ônibus escolar e não um rabecão. Assim, não parece que estamos viajando com um homem morto; parece que ele está pegando carona conosco.

Muitos russos cremam seus mortos porque é mais simples e mais barato. Porém para o judeu, a cremação é a coisa mais triste que há, não há nada que você possa fazer. A eternidade já aconteceu.

Rabi Moskowitz: "Na antiga União Soviética é difícil viver como judeu e mais difícil ainda morrer como judeu." Atualmente, um enterro tradicional é quase motivo para celebração.

A família de Baruch Israel Naya não pode se dar ao luxo de enterrá-lo à maneira judaica. Rabi Moskowitz faz uma grande gentileza a Baruch. Noto que uma vez por semana Baruch aparece com um nome e rosto diferente, e Rabi Moskowitz faz o mesmo favor todas as vezes.

Naquela manhã de inverno é a primeira vez que sou chamado para ajudar, e lembro-me de estar sentado no ônibus tentando me concentrar no que precisa ser feito, não naquilo que estou fazendo. A neve fresca cobre a maioria dos túmulos, pensando que sou jovem demais para saber. Yossi e Yefim carregam o caixão de madeira até uma área cercada pequena, marcada por uma Estrela de David. Lá, Rabino Moskowitz e umas poucas pessoas esperam em silêncio na frente da sepultura aberta.

Do outro lado da cova quatro russos vestidos como trabalhadores de construção me olham de cima abaixo. Tento não olhar de volta. Coveiros não têm família ou amigos, e não os confunda com um de nós.

Rabi Moskowitz recita uma prece a respeito de estar atado no vínculo da vida. O Cadish é recitado pela primeira vez. O lenço ainda está molhado, e eu me transformei em coveiro. E a morte se transformou em vida eterna.

 

 

 
   
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