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No
último verão fui "acusada" por alguém de
ter nascido e sido criada num lar judeu ortodoxo. Eu a provoquei com uma
linha sobre minhas experiências com os Fuzileiros, mas mesmo assim
agradeci a ela pelo "elogio".
Cresci em Detroit, onde minha família pertencia a uma sinagoga
conservadora que nós freqüentávamos em Rosh Hashaná
e Yom Kipur. Fui para a escola vespertina de hebraico durante anos. Continuei
indo aos serviços no Shabat, mesmo depois de meu compromisso ser
cumprido com meu bat mitsvá.
Fui aceita na Universidade Estadual de Michigan para o curso de Comunicações,
mas recebi a má notícia de ter sido desqualificada para
a bolsa de estudos. No dia em que fui à escola para informar minha
orientadora daquele fato, o recrutador da Força Aérea estava
lá. Nove meses depois, eu estava num campo de treinamento no Texas,
seguido pelo treino inicial em transmissão no estado de Indiana,
depois dois anos no Japão, dois anos na Ilha de Creta, na Grécia,
e uma curta passagem em Dharam, Arábia Saudita.
Comecei por baixo e cheguei ao posto de sargento em quatro anos. Fui designada
para o AFRTS, o Serviço de Rádio e Televisão das
Forças Armadas. No além-mar, nosso trabalho era dirigir
uma estação inteira de rádio e TV, praticamente em
todas as bases. Tudo, desde trocar as fitas da TV estatal e shows no rádio,
até escrever, produzir, editar e até atuar em comerciais,
shows de rádio, noticiários locais, e mais, tanto para o
rádio como para a TV. Organizei e realizei entrevistas com todo
mundo, de celebridades ao Diretor do Departamento de Defesa, Escolas de
dependentes e o Cônsul Geral da Espanha.
Vivendo em bases militares no outro lado do oceano, minhas opções
de encontrar homens judeus solteiros eram escassas, e depois de um casamento
de curta duração, tornei-me a clássica mãe
divorciada.
Quando terminou meu engajamento militar, minha filha e eu voltamos a Detroit,
onde logo retornamos à mesma antiga rotina na mesma velha sinagoga.
Eu ia lá no Shabat e isso era tudo. Depois de algum tempo, comecei
a sentir falta de alguma coisa, mas não sabia do quê. "Será
que alguma outra religião seria o certo para mim?" perguntava
a mim mesma. Depois pensei: "Antes de procurar em outro lugar, talvez
eu devesse descobrir se há algo mais em meu próprio Judaísmo."
No Shabat seguinte minha filha e eu fomos a pé até uma sinagoga
Chabad. O rabino, Rabi Elimelech Silberberg, convidou-nos para almoçar
e aceitamos.
Eu estava pronta. A observância do Shabat logo se seguiu, e tornar-me
totalmente casher levou apenas alguns meses. Senti que estava realizada,
mas apesar disso estranhamente ignorante. Havia TANTO para aprender! Descobri
que aquilo que eu sabia antes sobre o Judaísmo era quase nada,
enquanto nunca soubera que havia uma versão integral.
E então crescemos. Como eu não morava perto de nenhuma sinagoga,
Rabi Silberberg arranjou acomodações para nós em
todo Shabat, especialmente naquele primeiro ano.
Fui dispensada de meu trabalho em computadores, e você pode imaginar
meu desgosto. Uma mãe sozinha, sem emprego? Mas aquilo que quase
acabou com meus nervos terminou sendo uma bênção disfarçada.
O secretário da organização rabínica em Detroit
pediu uma licença por doença, e Rabi Silberberg conseguiu-me
um emprego de meio-período ali. Ele também ofereceu-me um
emprego na sua sinagoga. Os dois empregos foram experiências de
muito aprendizado e crescimento para mim. Em cinco anos, eu passei a trabalhar
período integral na sinagoga, e tinha também um emprego
de meio-período na rádio, fazendo o noticiário noturno
sobre trânsito.
Eu estava bastante ocupada, mas D’us ainda tinha mais coisas reservadas
para minha vida.
Casei-me com Rabi Dovid Bryn, embora soubesse que ele tinha um sério
problema genético. Dovid era um emissário do Lubavitcher
Rebe em North Miami Beach. Ele personificava o amor pelo próximo
judeu. Seu amor era genuíno a cada indivíduo, não
importa quem fosse. Do rabino mais notável ao garoto com cabelo
roxo e argola no nariz, todos eram tratados igualmente, e igualmente tocados
em seu âmago.
A transbordante preocupação de Dovid pelos outros não
deixava espaço para preocupar-se com seu próprio bem-estar.
Se conseguisse respirar, falava com os outros sobre a bondade de D’us,
da beleza de uma mitsvá ou das coisas boas da vida. Se conseguisse
andar, compartilhava a vida com os outros e lhes mostrava uma perspectiva
rósea sobre os altos e baixos da vida.
Foi por isso que 650 pessoas dançaram com incontida alegria no
nosso casamento. É por isso que ele não conseguia entrar
ou sair de um restaurante, de uma loja ou de uma padaria, sem falar com
30 pessoas. É por isso quê, quando ele estava num carro com
outros rabinos numa rodovia, era para ele que os adolescentes no outro
carro gritavam: "Ei, ali vai Rabi Bryn! Oi, Rabino!"
Quatro meses depois do casamento, estávamos no pronto socorro.
Passamos os dois anos seguintes entrando e saindo de hospitais na Flórida
e em Nova York, devido a uma infecção hospitalar por estafilococos
que se seguiu a uma cirurgia de aneurisma. Era uma infecção
resistente a tudo, exceto aos antibióticos via intravenosa, e exigiu
oito cirurgias para debelar. Duas semanas depois da volta de Nova York
para a Flórida depois de outros dois meses no hospital, a vesícula
de meu marido falhou, o que significava mais quatro cirurgias de emergência
em poucos meses, e a obra que sua alma veio para realizar estava terminada.
Meu marido faleceu.
Vou compartilhar com você meu segredo para manter minha sanidade
durante aquela época: D’us realmente não nos dá
mais do que podemos suportar. Admito que houve dias em que pensei que
D’us estava sendo um tanto otimista demais a meu respeito, mas depois
voltei àquele princípio e dei um passo além: se isso
está acontecendo, então significa que tenho dentro de mim
as ferramentas para lidar com isso. Talvez eu apenas precise olhar melhor
hoje, procurar mais.
Como um amigo dele me escreveu: "Ele demonstrou uma força
que homens que parecem mais fortes não possuem. Ele demonstrou
um amor sobre o qual apenas se escreveu. Ele viveu uma vida plena, tratando
os outros como eles gostariam de ser tratados. Ele o fez, e viveu 120
anos num terço desse tempo. Quando eu precisar de um exemplo desse
inquebrantável poder do amor, pensarei nele."
Terminarei com algo que meu marido disse a respeito de uma situação
particularmente difícil que estávamos passando, mas eu a
aplicarei a mim mesma e ao meu futuro: "Mal posso esperar para ver
o que D’us planejou."
Adaptado
de N'Shei Chabad Newsletter
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