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"Quando
criança, eu freqüentava uma escola secular na parte da manhã
e uma escola judaica à tarde. Meus pais acreditavam que era importante
receber os dois tipos de educação" – começa
Miriam Unterberger.
Na adolescência, Miriam costumava fazer parte de um clube judaico
que se encontrava na sinagoga local, nas noites de sexta-feira e sábado.
Ela tornou-se uma conselheira para o grupo.
"Eu não sabia muita coisa sobre o Judaísmo, mas conhecia
suficientemente os fundamentos para repassá-los a crianças
mais novas que eu."
Após graduar-se no Ensino Médio, Miriam estudou computação
por dois anos, embora tivesse logo chegado à decisão que
não era isso que queria. "Eu pintava desde os meus doze anos.
Então, assim que tomei a decisão de não continuar
com os computadores, comecei a freqüentar uma escola de arte."
No outono de 1999, quando Miriam ainda estava na escola de artes, seu
pai, Andres, teve um ataque cardíaco. Pouco dias depois, uma das
amigas de Miriam lhe deu um presente.
"Meu rabino, Shlomo Levy, um dos emissários do Rebe em Buenos
Aires, enviou este livro para você. Leia." – afirmou
sua amiga – "e seu pai ficará melhor."
O livro era o Tehilim – Os Salmos do Rei David. "Folheei o
livro e vi alguns ensaios no final. Um deles dizia que se você lesse
capítulos específicos de Salmos, isso ajudaria a pessoa
em sofrimento. Comecei a ler aqueles capítulos todos os dias, e
meu pai começou a melhorar. Poucos dias depois, Rabi Levy visitou
meu pai no hospital. Depois da visita, meu pai disse: 'Sinto-me melhor
agora.'"
Miriam começou a ir com sua amiga à casa de Rabi Levy para
jantar na sexta-feira à noite. Ela apreciava a companhia e a atmosfera
de calor da casa aberta.
Quando um grupo de amigos de Miriam fez planos de fazer aliyá –
mudar para Israel – ela decidiu juntar-se a eles. "Freqüentei
um ulpan em Ashkelon para aprender hebraico, e depois mais tarde em Jerusalém.
Eu não era totalmente religiosa ainda, mas espantei-me por ver
que num local sagrado havia tanta profanação. No edifício
de apartamentos onde ficavam todos os novos imigrantes, havia pessoas
literalmente vendendo drogas em todas as escadarias. Perguntei a mim mesma:
O que é isso? Estou em Israel, este lugar sagrado, e mesmo assim
há tanta depravação."
Após o término do ulpan, Miriam trabalhou em um hotel em
Jerusalém como recepcionista, e depois começou a trabalhar
numa loja de cosméticos. "Eu tinha um emprego, tinha amigos,
mas comecei a sentir-me deprimida e não sabia por quê. Talvez
eu precisasse de minha família e todas as 'coisas' que tinha deixado
na Argentina. Senti que dentro de mim, algo estava errado. Era como se
minha alma estivesse sofrendo, como se estivesse chorando."
Os pais de uma amiga da Argentina que tinham se mudado para Israel alguns
meses antes convidaram-na para o Shabat. "Eles eram religiosos e
me convidaram para passar todo o Shabat com eles. Pensei: O que tenho
a perder? – e fui. Não me diverti nada. Isso não é
para mim – disse comigo mesma.
Pouco depois, uma amiga convidou Miriam para um Shabaton. "O que
tenho a perder?" perguntou Miriam a si mesma. "O Shabaton terminou
e eu ainda não estava mais perto de entender o que se passava dentro
de mim do que estava quando tinha começado. Decidi discutir o assunto
com meu chefe. Sua opinião sobre tudo aquilo foi que eu estava
com saudade de casa. Arrumei as malas e voltei para casa."
Uma vez em casa, Miriam sentia o mesmo que tinha sentido em Israel. "Procurei
Rabi Levy para conversar. Ele pediu-me para descrever como me sentia.
Sinto-me como se minha alma estivesse chorando. Isso é possível?
perguntei a ele."
Rabi Levy pegou o livro Rumo a Uma Vida Significativa, de autoria de Rabi
Simon Jacobson, em espanhol, e abriu-o nas primeiras páginas. "Leia
isso" – disse ele. Descrevia exatamente aquilo que eu estava
sentindo!
"Você precisa alimentar sua alma" – Rabi Levy disse
a Miriam. "Da mesma maneira que dá comida a seu corpo, precisa
dar comida para a alma."
Eu estava nervosa. "Não quero ser religiosa" –
respondi a ele.
"Não há nada para se preocupar" – Rabi Levy
acalmou Miriam. Ele a encorajou a entrar em contato com o diretor de uma
yeshivá feminina de meio-período em Buenos Aires, e a começar
freqüentando as aulas. Embora hesitante, Miriam concordou. "Não
sei se isso vai aquietar o pranto de sua alma, mas você precisa
tentar."
A princípio, eu não gostei realmente das aulas. Mas quando
continuei, percebi que aquilo estava alimentando minha alma."
Pouco tempo depois, Miriam tomou consciência do fato de haver tantos
judeus – rapazes e moças – solteiros, mas ninguém
parecia estar fazendo algo para ajudá-los a se conhecer. "Eu
disse a Rabi Levy que ele precisava fazer shiduchim (formar pares) para
que judeus se casassem com judias.
Ocorre que o "Festival dos Mil" – um jantar que o Centro
de Chabad esperava que atraísse 1000 jovens solteiros, estava nos
primeiros estágios de planejamento. Miriam começou a trabalhar
com Rabi Levy no projeto. "Agora eu tinha um emprego, trabalhando
num projeto que eu considerava muito importante. Aos poucos, comecei a
comer casher e a sentir-me mais à vontade em guardar o Shabat."
"Poucas semanas antes do evento, ainda tínhamos somente 700
pessoas com reservas. Rabi Levy foi para Nova York e visitou o Ohel (o
túmulo do Rebe) para pedir a D’us que o evento fosse um grande
sucesso. De repente, começamos a vender ingressos como nunca. Antes
que eu percebesse, havia 1500 vendidos. Encerramos as reservas e vieram
mais 450. Portanto, tivemos o jantar principal como planejado, e um jantar
'menor' para 450 pessoas alguns dias depois."
Miriam se recorda de ter perguntado a si mesma certo dia: "Quando
foi que me tornei frum (religiosa)? Percebi que num dia, estava comendo
casher. Outra vez, notei que estava observando totalmente o Shabat. Foi
um processo. Não acontece de uma só vez."
Com o conselho de Rabi Levy, seu mashpiá (mentor espiritual), Miriam
candidatou-se à Machon Chana, a Yeshivá Feminina em Crown
Heights, Brooklyn. Quando foi aceita, Miriam encontrou muitos obstáculos
que a teriam impedido de se matricular. Ela não tinha dinheiro
suficiente para a passagem aérea e encontrou 100 pesos na rua.
Não levava a documentação exigida para um visto de
estudante na Embaixada Americana em Buenos Aires e mesmo assim conseguiu
o visto.
Refletindo sobre estes últimos anos, Miriam repete muitas vezes:
"Sinto que D’us tem sido muito generoso comigo."
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