|
A vida após a morte é fundamental na crença judaica.
A criação do homem atesta a vida eterna da alma.
A Torá diz: "E o Todo Poderoso formou o homem do pó
da terra e soprou em suas narinas a alma da vida". Neste versículo,
o Zôhar declara que "aquele que sopra, sopra de dentro de si
mesmo," indicando que a alma é na verdade parte da essência
de D'us. Como Sua essência é completamente espiritual, e
não-física, é impossível que a alma possa
morrer. Esta é a idéia que o Rei Salomão queria transmitir
quando escreveu: "O pó retornará ao solo como antes,
e o espírito retornará a D'us que o concedeu." (Cohêlet
12:17).
Na morte, a alma e o corpo, que formavam uma entidade, se separam. O corpo
é enterrado e volta à matéria perdendo toda sua conexão
com a Vitalidade. Já a alma é eterna, e se transfere deste
mundo para o próximo, um mundo totalmente espiritual. Essa transferência
se dá por etapas: enquanto o corpo passa por um processo lento
de decomposição essencial para a separação
gradual entre corpo e alma, a alma judaica passa por vários estágios
se desligando gradualmente deste mundo: primeiro a morte, depois o enterro,
3 dias após a morte, uma semana após a morte, 30 dias após
a morte, 3 meses após a morte, 11 meses após a morte, e
finalmente um ano após a morte.
A
idéia do judaísmo sobre a vida após a morte
é bem diferente das tradições ocidentais.
|
Obviamente existe um lugar onde as pessoas boas recebem uma recompensa
e os maus são punidos. (veja Maimônides, 13 Princípios
da Fé).
A alma precisa passar por uma série de purificações
para poder entrar no Gan Éden (conhecido como paraíso).
Muitos chamam esta fase de inferno ou purgatório, mas o judaísmo
acredita que o inferno não é uma punição,
mas um sofrimento espiritual, um processo de refinamento pelo qual a alma
precisa passar para se purificar dos pecados cometidos e elevar-se nos
diferentes reinos espirituais. Só então a alma vai para
o Gan Éden, onde estuda os segredos mais profundos da Torá
e é envolvida pela presença Divina.
Para qualquer pessoa que acredita em um D'us justo e amoroso, a existência
de uma sobrevida faz sentido lógico. É possível que
este mundo seja apenas um parque de diversões sem maiores conseqüências?
Há uma conexão direta, e o "filme da vida", não
tem pré-estréia nem "bis", roda uma vez e pronto!
Sem mesa de edição. Os bons atos de sabedoria que a alma
ganhou em sua missão aqui em baixo servem como uma proteção,
uma roupa espacial para sua jornada nos altos. Qualquer um deseja para
si uma que lhe sirva a contento, realmente confortável e útil
ao empreender esta viagem.
Quando a pessoa morre e vai para o céu, o julgamento não
é arbitrário e imposto externamente.
Ao contrário, a alma assiste à dois filmes: o primeiro é
chamado "Esta é a sua vida!" Cada decisão e cada
pensamento, todas as boas ações, e todas as coisas constrangedoras
que a pessoa fez em particular são passados sem nenhum embelezamento.
É a verdade nua e crua para todos assistirem. Eis porque o próximo
mundo é chamado Olam HaEmet – "O Mundo da Verdade,"
porque lá reconhecemos claramente nossa força pessoal e
nossas falhas, e o verdadeiro propósito da vida. Para resumir,
o inferno não é o diabo atiçando as chamas com um
tridente.
O segundo filme mostra como a vida da pessoa "poderia ter sido…"
se as escolhas certas tivessem sido feitas, se as oportunidades tivessem
sido aproveitadas, se o potencial fosse utilizado. Este vídeo –
a dor do potencial desperdiçado – é muito mais difícil
de suportar. Mas ao mesmo tempo, também purifica a alma. O sofrimento
provoca o arrependimento, que remove as barreiras e possibilita à
alma conectar-se completamente com D'us.
Quando
a alma deixa o corpo, continua a ter outras experiências.
|
Quando a alma deixa o corpo, continua a ter outras experiências.
Uma parte disso talvez seja receber as recompensas pela sua obra neste
mundo: apreciar a Divindade, ver os frutos de seu trabalho nesta vida,
passear pelo "paraíso", acompanhar o crescimento de seus
filhos e passos de seus amigs e familiares, sentar e respirar o ar rodeado
de um infinito azul longe das "tempestades" … mas qualquer
que seja o cenário nas Alturas, o corpo voltará à
vida após todos os fatos previstos que ocorrerão na era
de Mashiach, quando então virá a Ressurreição
dos Mortos.
Mas enquanto isto ainda não ocorre, há uma vantagem para
a existência sem um corpo, também. O corpo está muito
ligado a assuntos deste mundo e pode limitar nossa avaliação
das coisas espirituais. A alma, por si só, é mais sensível
à Divindade. O céu é onde a alma vive os maiores
prazeres possíveis – o sentimento de proximidade a D'us.
É claro que nem todas as almas a experimentam no mesmo grau. É
como ir a um concerto sinfônico. Alguns ingressos são para
as cadeiras centrais na frente, outros ficam atrás, nas arquibancadas.
A localização de seu assento está diretamente conectada
ao mérito de suas boas ações – como por exemplo
fazer caridade ou cuidar e amar ao próximo, ou rezar com intenção
e sinceridade, entre tantas outras.
Outro fator que deve ser considerado no céu é que uma pessoa
pode ter ótimos assentos, mas pode não saber apreciar o
que está acontecendo. Se a pessoa passa toda a vida elevando a
alma e tornando-se sensível às realidades espirituais (através
do estudo de Torá), então isso constituirá um prazer
inimaginável no céu. Por outro lado, se a vida se resumiu
a pizza e futebol, bem, isso pode ser bem entediante para a eternidade.
Quando uma pessoa é capaz de amar e estender-se até outro
ser humano, então esta pessoa experimentou o céu nesta terra.
A existência de uma vida após a vida não é
declarada explicitamente na própria Torá, porque como seres
humanos temos de nos concentrar em nossa missão neste mundo, agir
sem pensar na recompensa, embora a consciência dela possa se constituir
em uma motivação eficaz.
Chegamos à conclusão que na verdade não há
nada após a vida, porque a vida nunca termina.
É como um ciclo constante, onde a alma desprende-se do corpo e
enquanto este decompõem-se lentamente neste processo, ela eleva-se
gradualmente às alturas até ficar cada vez mais próxima
de sua verdadeira fonte. Talvez sua jornada tenha acabado, talvez mais
uma vez mais ela será convocada a descer e habitar um novo corpo,
e assim sucessivamente sob o comando do Criador do Universo e de todas
as almas, `Aquele que esteve, está e sempre estará no comando:
D’us.
Veja mais em nosso site:
"Inferno:
um tour que ninguém deseja"
"Recompensa
e castigo"
Para estudos mais completos, veja "Fundações
da Torá" de Maimônides, "O caminho de D'us",
por Rabi Moshe Chaim Luzatto, e o comentário de Nachmanides sobre
Levítico, 18:29.
|