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  Os Anjos e Nós
  Por Tzvi Freeman
 

O que é uma mitsvá? O significado simples é “algo que D'us nos mandou fazer”. Como ajudar os outros, colocar tefilin ou descansar no Shabat. Alguns dirão que a mitsvá é um ato espiritual. Mas na verdade a mitsvá está além da espiritualidade. Muito além.

Todo mundo hoje fala sobre “espiritualidade”. Até pessoas no mundo dos negócios falam. Mas sejamos francos: a espiritualidade na forma terrena é como o balé numa roupa da amianto com cinco toneladas.

Imagine um ser sem um corpo. Puro intelecto, sem concepções terrenas. Chamamos tais seres de malachim - geralmente traduzido como “anjos”.

Os malachim têm seu próprio mundo, e apesar do fato de que nosso mundo vem do deles, não há realmente comparação. Em primeiro lugar, os malachim são celestiais dentro da energia divina. Veja, todo mundo é dotado com uma forma particular de energia que o mantém funcionando, determina sua forma e sustenta sua própria existência. Pense no mundo de um jogo de computador, alimentado pela energia que corre pelo computador - exceto, nesse caso, que o hardware também é energia.

Na verdade, nosso mundo também tem esse tipo de energia (muito baixa e filtrada), mas não entendemos o que está ocorrendo. Os Malachim “entendem” e são totalmente obcecados com o processo.

Segundo aquilo que seus intelectos maciços podem compreender da energia, esse é o grau que eles sentem. E assim passam seus dias e anos felizes. Os malachim vêm em todos os tipos em todos os níveis no mundo espiritual e elevado. Mas morando na mansão do mundo elevado, no auge da realidade onde a existência encontra a pré-existência e todas as coisas são geradas em ser, está o malach Michael. Nenhum ser de qualquer mundo compreende mais, nenhum ser recebe maior deleite - porque nenhum ser está tão perto do Princípio, a Fonte de Toda Vida.

Assim é para os anjos. Enquanto isso, aqui no plano da terra, a alma humana chafurda na escuridão pantanosa. Este ser corpóreo está trancado dentro da compreensão zero de sua missão, do significado da vida, de qualquer coisa divina ou além desse mundo. No calor de um fogo, o coração como de um animal, resfriado pelo intelecto daquele pedaço de carne chamado cérebro, lutando por um pouco de controle - pelo menos para evitar ser levado à extinção na corrida de ratos.

Veja isso: a alma de maior sucesso aqui não pode dançar tão graciosamente como o mais desajeitado malach. O malach dança num mundo de ideias e expressão, enquanto a alma se arrasta numa roupa de amianto, suas valiosas tentativas resultando em pouco mais que pulos e quedas com toda a dor e bagunça feia que se segue. Há a culpa, sentimentos de inadequação, lavadoras da alma na vida após e das voltas na próxima. Quando o erro é inevitável, o desespero é inevitável. E o desespero, para a alma, é a morte.

Então Rabi Israel Baal Shem Tov veio a este mundo e contou um segredo. “O Malach Michael”, ele revelou, “tem inveja de nós. Ele daria tudo, toda sua compreensão da luz divina, e todo o prazer que recebe dela, apenas por um fragmento de uma mitsvá que uma alma cumpre nesta terra.”

Como poderia ser? Os discípulos do Baal Shem Tov explicaram: o Malach Michael tem luz, muita luz. Mas aqui, nas trevas, no ato de uma simples mitsvá, temos a Fonte de Luz. Temos o Próprio D'us.

O que é essa “luz divina” que os malachim sentem, afinal? Nada mais que o poder da imaginação ilimitada de D'us imaginando a eles e seus mundos e o nosso, e todas as coisas dentro deles e trazendo-as à existência. Em menos de um segundo, tudo poderia terminar e ser esquecido como se não existisse, como um sonho de importância zero e impacto zero.

Somente que nessa fantasia, o Autor faz uma aparição. E onde é isso? Nas mitsvot que fazemos. Ali, nesses atos aparentemetne insignificantes, Ele não está mais fantasiando. A mitsvá é Ele, fazendo o que realmente quer, o objetivo para o qual Ele conjurou todos esses mundos.

E como Ele consegue fazer essas coisas? Por nosso intermédio. Portanto, numa mitsvá estamos sendo Ele, o verdadeiro Ele. E isso é algo que um malach não pode ser.

Sim, não sentimos D'us ali. Não temos o deleite estático que aqueles anjos têm. Mas isso somente porque estamos lidando com algo muito além da nossa compreensão, algo que estouraria tudos os fusíveis na mente até do Malach Michael, além de qualquer coisa que o coração humano possa lidar em sua atual interação. Para isso, teríamos de esperar pelo que chamam de “Mundo Vindouro”, como ensinaram os sábios : “Um momento de vida no Mundo Vindouro contém mais beleza que toda a vida neste mundo.” … porque é quando teremos mentes e corações que podem entrar na beleza mais que impressionante que geramos aqui nesta vida.

Mas também, eles ensinaram: “Um momento de retorno “teshuvá” e boas ações neste mundo são mais preciosos que toda a vida no Mundo Vindouro.”

E assim, cada momento da vida é para celebrar. Sim, erramos, sempre. Sim, sentimos a dor terrível daqueles erros quando eles voltam para nós no jogo de ping-pong cósmico. Mas talvez, apenas talvez, enquanto nos é dado outro dia de vida aqui, faremos outra mitsvá. E na luz cegante daquela mitsvá, todo o sofrimento, culpa e inadequação desaparecem, caem no esquecimento. Tudo vale a pena.

 

 

 
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